terça-feira, 6 de novembro de 2012

uma mulher que afunda na água do grande oceano. Ela representa a vida e a morte, as experiencias, os sonhos. Desejos, malicias, pecados. Ela representa a moralidade e a falta dela. A insanidade e a sanidade. Aos poucos a mulher vai passando de universo para universo. O mar vira deserto, vira floresta, vira espaço, vira o nada e o tudo. Nessa dança pelo efemero com passos de inexistencia. Se incorpora em meu corpo cultiva minha mente, apossa da alma. Aos poucos flui pelas minhas células. Vai entrando em mim, em como visão o mundo médio. O meio do tudo e o nada. Nao existe mais céu, nao existe mais arvores. É tudo parte de um corpo só, um unico ser.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Querida M.,



Não sei como começar essa carta. Faz tanto tempo que não nos falamos que já não consigo mais saber o que exatamente escrever. Pensei em escrever essa carta com uma linguagem mais formal, porque não sou íntimia da pessoa a qual direciono. Porém, a linguagem formal nunca passou perto da lista de coisas agradáveis. Para mim, a linguagem formal lembra um robô. A formalidade transforma a alma do texto, a transforma em fria, áspera, calculista. E não concordo com esse tipo de escrita.

Como posso explicar? A carta que fiz para ela não tinha nada a ver contigo. Em nenhum momento lhe citei, ou disse qualquer coisa parecida a seu respeito. Se enganou quando disse que eu estava te culpando de algo. Eu não sabia do seu caso até terminarem, esqueceu? E não é de meu feitio tomar dores de outras pessoas, ainda mais quando, essas mesmas pessoas, não tinham qualquer vínculo comigo até então o envio da carta. Não acredito que foi necessário te explicar esse ponto. Quando disse à ela que não me pareceu justo o sofrimento é porque eu não considero justo qualquer tipo de sofrimento. Não, eu não quis dizer que você é a culpada disso tudo, sinto muito, nem tudo gira em torno de ti.

A amizade que tinha contigo era muito agradavel. Eu sentia um enorme carinho e me fazia bem estar com você. Depois de um tempo, você se distanciou de mim por motivos que só consegui compreender agora. No começo senti sua falta e você sabe. Porém, com o passar desses quase dez meses, a sua presença já não me faz diferença. Ter ou não ter sua companhia não irá mudar a minha vida. Você me mandou uma mensagem dizendo que sentia saudades. Como eu posso acreditar nisso?

Afinal de contas, eu não saí do lugar. Você sabia onde e como me encontrar, mas nunca me procurou. Talvez por causa dela? Sim, provavelmente. Mas fazem quase três semanas do término de vocês, onde fora parar tua saudades? E se eu, era uma pessoa tão querida para você, então me explique bem explicado o porquê de falar tão mal de mim por aí. Se gostava tanto de mim, como dizia gostar, então porque insistia em fazer discursos sobre o meu mau-caratismo? Oras, M., já não te reconheço, lembro-me perfeitamente que quando nos conhecemos você batia o pé para pessoas falsas e que a coisas deveriam ser ditas com conversas cara-a-cara. Quem é você agora? São perguntas que infelizmente eu tenho. Convenhamos, seu silêncio é por si só, dono de suas respostas.

Eu posso lidar com uma amizade falsa. Posso lidar com acusações erroneas, com as culpas. Posso lidar com as consequencias, com a distância, com o silêncio. Posso lidar com a sua raiva, com a sua insegurança, posso lidar com a dor. Eu não me importo com todos os seus erros e defeitos. Eu não ligo para seus discursos mal-ditos, com suas brigas, com o seu drama. Porém, M., não posso lidar com a ausência. Com o vazio do nosso relacionamento, com um laço frouxo. Existe uma barreira entre nós e quebrar essa barreira, para mim, significa regressar a velhos costumes das quais quero me livrar. Já não conheço quem es tu. E de nada vale sua amizade. Então, guarde as boas lembranças em um baú, ou as jogue fora, como preferir. Porque aquele tempo, infelizmente, não irá voltar. Só peço que se cuide nesses novos caminhos.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Querida V,

  Faz tempo que não nos falamos, não é mesmo? Sei que neste momento, eu devo ser uma das últimas pessoas das quais você gostaria de algum contato. Pediram, e quase imploraram, para que não te procurasse. Veja bem, estou colocando a credibilidade da minha fonte em xeque e isso pode ser um risco para mim. Entretanto, assim que soube da sua história me deu um surto que não consigo explicar. Me deu vontade de te abraçar e dizer que vai ficar tudo bem, mas acima de tudo, te pedir desculpas.
  Sei que nosso relacionamento era conturbado. Não tinhamos algo definido, e quando digo isso falo à respeito de tudo, sentimentos, relacionamento, vida. Sei também que sumi quando menos deveria te-lo feito. Não que você precisasse de mim, muito pelo contrário, ou que talvez tenha sofrido (aliás, você sofreu com minha ausência?). Mas minha ausência teve respostas, foi um cuidado armado, algo pensado. Eu não te contei, sei que fiz errado.
  Porém, você havia me dito que as pessoas à sua volta estavam lhe pressionando para tomar alguma decisão sobre nós. Eu mesmo, odeio pressão. Não me pareceu justo continuar com algo forçado, botar seus sentimentos na linha de frente sem ter algo certo a ser trocado. Não me pareceu justo forçar algo que nós mesmos não ligávamos. Nosso relacionamento era fluído. Livre. Foi por isso que tomei um chá de sumiço, não queria te ver forçando uma barra que você não queria.
  Vitória, essa é uma carta de desculpas, desculpas pela minha ausência, pela minha filha da putagem, desculpas pelas suas possíveis mágoas, por futuras dores. Mas é também uma carta amiga, que estende a mão, que compreende sua dor. É uma carta que pede trégua e ao mesmo tempo esclarecimento. Como se fosse um novo tempo. Não espero que você me desculpe, não espero uma resposta imediata, aliás, nem sei se espero coisa alguma. Talvez apenas que essa carta te dê a sensação de segurança, de algo passado a limpo, realmente não sei.
  A verdade é que a vontade que eu tenho de te abraçar agora nunca fora tão forte. De dizer que vai ficar tudo bem. De esperar um possivel tapa na cara para ver se largo de ser tão cretina. De alguma forma, nunca quis tanto te fazer sorrir. Vai ver que é porque, em alguma hora, me identifiquei com sua dor. Que não me parece justo o teu sofrimento.
  Se em algum momento você achar que pode, de alguma forma, contar comigo. Seja para discutir durante horas, para ficar em silencio, para me dar uma bofeteada na cara, simplesmente desabafar, minha casa estará livre para tomar um café em uma tarde calorosa. E se nesse momento você ainda tiver a sensação que deve ficar distante de mim, espero que de alguma forma esta carta tenha lhe ajudado. Nem que seja para você me xingar mais um pouco.
  E de coração, eu espero melhoras. Esse capítulo da sua vida está encerrado, você tá sofrendo pra caralho agora, mas daqui há um tempo estará melhor. Você merece o melhor. Então erga sua cabeça e cate esse coração partido, coloque aquele batom vermelho e vá de novo à luta.


Desejo-lhe sorte,

Isabella.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Querida Carla,


Sei como é a dor de ter um coração partido. Acho que todos nós aqui na terra já sentimos tal dor. Até as mais horrendas das criaturas. Mas também sei que essa dor é passageira, por mais que não pareça. No começo você vai chorar, vai gritar e vai amaldiçoar cada pessoa desse pequeno planeta. Sei que vai ter horas que a dor vai ser tão grande que parece que não caberá mais no peito. E que aparenta ser um enorme buraco negro que destroi cada fragmento de boas lembranças. Mas vai passar.

As vezes você vai achar que passou. Mas então você a verá de mãos dadas na rua com outra ou então vai passar por aquele restaurante que sempre iam, até mesmo ouvir aquela música vai fazer parecer com que toda hemorragia estancada, toda ferida, nunca foi cicatrizada. Você voltará para o zero. Chorará, ficará em posição fetal. Até mesmo entrar em profunda depressão. Sei que seus vicios irão aumentar. Você beberá mais café do que o usual, mas seria bom se fosse somente o café. Aquelas cervejas à mais só trará mais dor para o dia seguinte. Dor e ressaca. Sem contar com os novos vicios que irão surgir. Seja comprar toneladas de doces na padaria ou correr que nem uma maluca no parque durante à noite. Não podemos esquecer dos velhos vicios – que sóbriamente deixamos de lado mas sempre voltam nas horas do aperto – como o cigarro, os remedios tarja preta ou ler aqueles livros de romances capengas.

Você não se sentirá mais tão bela, ou tão radiante que outrora achava. Não se sentirá mulher digna de um afeto, merecedora de amigos ou novos amores – até porque a essa altura você vai dizer que o amor não existe – . Eu te conheço. E muito bem. Você não sentirá vontade de fazer sua maquiagem de guerra ou usar aqueles vestidos sedutores. Não nesse estágio de dor. Nesse estágio você só irá querer tomar sorvete e olhar o programa de domingo, irá recusar convites para saídas e chorar no seu travesseiro.

Eu sei como você se sente. Mas isso vai passar. Aos poucos, mas passa. Daqui a pouco você volta com aquele batom vermelho, com aquele olhar confiante, aos poucos você deixa o moletom de lado e volta com aquele vestido lindo que guarda para ocasiões especiais. E quando menos perceber a dor irá desaparecer e o choro vai parar. Vai voltar para a academia, vai largar o cigarro. Voltará a beijar outras bocas e cairá novamente apaixonada.

Porque esse é um ciclo. Acontece assim. E você sabe que precisou passar por isso para seguir com outro circulo e se arriscar de novo, e se apaixonar de novo, e amar de novo e se foder de novo e voltar a chorar. Então vai se recuperar desse seu fundo do poço, sua fossa sem fim. Porque é assim que tem que ser. Você cai mas volta, entendeu? Volta!

E é por isso que hoje não irei à sua casa. É por isso que não tomarei aquele vinho, jogarei aquela conversa fora e deixarei você chorar em meu ouvido para enfim, fazermos amor. Você precisa desse tempo para você, para catar os pedaços. Um conselho? Deixe a dor te consumir. Use o que tem que usar, faça cartas de amor e ódio, entre em uma overdose de insanidade e se recupere. Não se preocupe, estarei à sua espera. Esperarei tua ligação e teu sorriso inundar meus pensamentos, deixarei você fazer o que quiser comigo. Mas hoje, hoje, Carla, você precisa estar ai, embaixo dessas cobertas, chorando de soluçar pelo amor que saiu porta à fora sem dizer adeus porque só assim você achará o que mais precisa: amor-próprio. Porque só assim você poderá correr atrás da tal felicidade que todos estamos à procura.


Júlio

segunda-feira, 9 de julho de 2012

ilusão

Preste atenção no que digo, menina. O calor do seu corpo me faz sonhar. O contato que tenho com a sua pele me causa leveza na alma. Você me faz tão bem. Fecho os olhos por um instante e sua imagem me vem a cabeça, seu olhar penetrante, seu sorriso maravilhoso. Se eu prender minha respiração por um segundo poderei sentir seu perfume, seu toque, seu beijo, sua mão gelada. A imaginação me abraça e me leva em um mundo onde eu acordaria pela manhã e estaria abraçada com você. Nos beijaríamos embaixo da arvore mais bonita do parque. Faríamos amor à nossa maneira. Lentamente abro os olhos e consigo ver nós duas de mãos dadas, caminhando tranquilamente fazendo um percurso que pouco era importante. O tempo não parecia urgente. Nesse mundo, eu poderia tocar-lhe a face em meio a uma multidão, e lentamente fazer carícias em seus cabelos. Eu poderia te beijar sem ter o menor remorso, sem me sentir culpada. Então aos poucos você foge do meu sonho e começa a se pintar de realidade. É tudo tão escuro, tão frio. A felicidade vai se esvaindo de mim pouco a pouco, me deixando sem energia. A distancia entre nós vai se tornando maior cada vez mais rápido, você vai sumindo no horizonte e eu fico com as memórias que tenho de ti. Me vejo parte de um espelho cujo o reflexo não está inteiro, falta sua parte. Os cacos estão espalhados por um chão que na verdade não existe. O contorno dos seus olhos vai aos poucos fugindo de minhas lembranças, as curvas de seu sorriso vão aos poucos se perdendo na escuridão de uma noite que não acaba. Seu cheiro vai ficando distante e a solidão nunca apertou tão forte o meu peito. Eu só desejo o clarear do dia para que eu possa acordar e te ver abraçada comigo na cama.

Mas o sol nunca chegará.

domingo, 8 de julho de 2012

Xeque-mate.


Júlio, 

 Quando se diz “eu te amo” para alguem, você é enlaçado por sutis promessas e que uma delas consiste em cuidar da pessoa que se ama. É por isso que eu não digo “eu te amo” com a mesma frequencia que as pessoas por aí fora costumam dizer. Por que sei que ao dizer isso faço a pessoa que gosto acreditar que estou me comprometendo com promessas que na verdade eu ainda não sei bem o que são. Ao dizer a alguem que você a ama é dizer que vai correr risco. As vezes não sei se estou preparada para percorrer tais aventuras, encarar tais monstros e é nessas e outras que eu prefiro ter a garantia maxima do que estou dizendo para que assim eu não machuque a pessoa que tanto prezo. Qualquer pessoa ajuizada teria cuidado com essas palavras por que normalmente sabem o que elas querem dizer ao contrário essas pessoas seriam crueis. Por que tomar um coração para si e depois parti-lo é, para mim, um dos atos mais crueis que o ser humano pode fazer. O amor é acima de tudo tentar e fazer o seu melhor.
É por isso que eu não posso acreditar que ela me ame, Júlio. Por que ela não tenta. Ela não faz o menor esforço para me ver, me beijar ou sequer me telefonar. Por que ela não corre riscos, por que ela prefere o conforto da heterossexualidade do que uma possivel brecha de felicidade (não que eu esteja prometendo tal, mas por que haveria possibilidades reais). Quais seriam as chances disso ter dado certo? E quão tola fui ao acreditar que poderia criar algum tipo de laço com alguem que nem sequer estaria disposta a enfrentar o mundo junto comigo? Não responda, eu sei o que sou. Alguem aqui na relação tem que saber afinal.
E se me perguntar se ficarei amiga dela em algum dia da minha existencia já aviso que a resposta não é positiva. E então você me perguntaria “e nós? Não somos amigos? Já fomos amantes”. Mas Júlio, você foi sincero comigo do começo ao fim e terminamos nosso relacionamento como um tratado de paz em que ambas as partes entederam de fato o que estava acontecendo.
Ela me enganou. E eu cai. Omitiu fatos, preferiu a covardia do que me deixar a par do tipo de enrascada que eu estava caindo. Me seduziu com palavras bonitas e esqueci de notar se eram feitas de significados vazios, pequenas promessas falsas, uma armadilha. Ela não teve a menor consideração ou respeito por mim. Não conseguiu nem ser o básico: Honesta. Um dia perguntei à ela se era perda de tempo esse nosso possivel envolvimento e ela ficara chateada dizendo que eu a havia ofendido. Era uma mentira em prol da covardia. E quando eu fiquei com raiva na festa que fomos e não quis falar com ela, me disse que teria me beijado em público. Mentira em prol da covardia! E eu cai. A paixão que sinto por ela me deixou tão irracional que eu acreditava sem ao menos deixar os olhos da racionalidade darem uma lida naqueles contextos para ver se eu poderia ou não prosseguir. Mas para que né? Eu gosto demais dela e confiava nela, julgava que a moça não poderia me machucar e que tudo era um mal entendido de ambas as partes. Como eu sou tola. E de fato ela poderia ter gostado de mim. Sim, eu acredito nisso. Porém, ela nunca poderia ter me amado.
Compreendes, meu caro Júlio, por que agora estou de coração partido? Não é fácil para a minha senhoria se apegar a uma pessoa. E quando me apeguei, descobri que era tudo uma jogada. E péssima jogada. Quero dizer, estava escrito nos olhos dela que seria um problema. Ficar com ela era até contra os meus principios, por que eu sei da minha sexualidade e sei também que isso não interessa à ninguem a não ser à mim mesma, estar com alguem que não sabe da sua sexualidade e que se importa de fato com o que as pessoas vão falar é tão... contra tudo o que eu acredito, tudo o que sou. Mas a paixão é burra, não é? Tola. Patetica. Estúpida. Quando será que eu vou aprender?
Quer ler algo interessante? Eu nunca chorei por você, Júlio e olha que te amei. Estou aqui, escrevendo essa carta enquanto sou abordada por milhares de explosoes de memórias que insistem em me mostrar os momentos bons que tive com essa moça. Explosoes que me fazem lembrar cheiros, sentimentos, beijos e carícias. Explosoes que me afetam de um jeito que qualquer coração partido irá compreender. E essas explosoes acontecem dentro de mim e se expressam como lágrimas.
Então se queria noticias minhas, meu caro, aí estão elas. A última pessoa do mundo que você esperava sofrer por uma [des]ilusão está aqui, chorando como uma criança inocente por uma menina que não valia nem um suspiro sequer. Espero que minha carta não tenha lhe deixado entediado e também espero receber noticias suas em breve. Talvez eu faça uma viagem para lhe ver, só você consegue me deixar nesse torpor de conforto e me fazer esquecer qualquer boa moça em meu coração com risadas, boas conversas e vinho.

Sua amiga,

Carla.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

...

Faz tanto tempo que não te escrevo... Já não consigo nem lembrar de como era sua letra, já não sei mais como é seu cheiro e o seu toque. Nosso ultimo encontro foi tão intenso e triste que não sei por que estou a te escrever. Mas achei importante. Achei importante você saber. Pode ser egoísmo meu lhe dizer essas coisas sabendo que o temos é um laço mal feito em que nenhuma de nós consegue desatar. Não estou pensando nas consequências disso, não estou pensando em como você receberá essa carta. Infelizmente estou colocando para fora tudo o que eu sinto por você. Então preste atenção por que não conseguirei te dizer isso novamente, preste atenção por que minhas lágrimas estão cansadas de descer em meu travesseiro e minhas memórias estão cansadas de te encarar.

 Tínhamos tudo para dar certo. Me arrependo cada segundo que deu errado. Me arrependo de cada discussão, cada briga em plena madrugada. E a tristeza me assola em cada momento em que me via só na cama em um dia frio. Me sinto nua, vulnerável e só quando vejo nossas fotos do passado e entendo que isso jamais acontecerá novamente. Me vejo louca, patética e bêbada à sua procura pelas ruas dessa cidade. Já perdi as contas das vezes que sonhei que lhe abraçava e quantas vezes tive pesadelos com nosso ultimo encontro.

A verdade é que você foi a primeira pessoa que amei e provavelmente a ultima que irei amar. Machuca saber que não a formas de passar uma borracha pelo passado. Mas não me arrependo de ter te conhecido. Entraria naquele café mais umas trocentas vezes e falaria com você em todas elas. Te beijaria novamente naquela praia ao som da brisa do mar. E sussurraria 'eu te amo' todas as vezes que achava preciso te falar.

Mas você tinha barreiras que eu não conseguia compreender. E eu também tinha alguns obstáculos. E a cada briga ou discussão, levantávamos nossos muros, fazia nossa comunicação cada vez pior. Mas eu sentia que você poderia me ler. Eu era um livro aberto feito em linguagem que só você poderia dizer. Era tua. Como você era minha. Cada olhar que me dava conseguia me dizer textos que ecoavam em minha mente por dias ora felicidade, ora tristeza. Meu corpo dança ao ouvir teu nome. A alma estremece ao sentir seu toque. As saudades que me rondam me abrem um buraco que só você poderia tampar.

Eu vou me casar. Isso mesmo. Vou me casar. Daqui há 48 horas subirei ao altar e direi "sim" para uma pessoa que não é você. E estou aqui escrevendo uma carta à uma mulher que talvez pouco se importe com que estou sentindo, estou à escrever uma carta que talvez nem exista pelas lágrimas que descem incontrolaveis de meu interior. Estou finalmente me desfazendo do que tinha por você e me lançando novamente ao mar, me permitindo sentir por outra pessoa um pouco do que sentia por ti. Estou apagando seu cheiro, seus toques, suas lembranças. Estou tampando qualquer resquício, qualquer fragmento que possa permanecer em mim. Estou juntando os cacos. Ou pelo menos é isso que tenho que transparecer.

Estou dizendo isso à você por que ainda tenho esperanças que você apareça no casamento. Que você diga "não", que você brigue e diga que me ama. Por que, ainda tola, tenho esperanças que você me ame e que poderemos dar certo. Este é um desafio, este é um pedido de socorro, este é um novo começo, tanto faz pelo que você chame, mas venha me buscar por que meu corpo já não aguenta mais viver distante do teu.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Projeto S.O.S. Cartas

 Olá,

Quanto tempo que não escrevo aqui, muito tempo mesmo. Estou voltando a escrever no blog e estou começando uma nova de literatura. Na verdade, estou apenas tentando voltar aquela que nestes últimos tempos anda um pouco esquecida. Sempre tive uma enorme vontade de poder receber uma carta, uma que não seja uma maldita cobrança. Algo que faça você sair da rotina e que possa te desligar um pouco desse mundo de informações. Porém isso não quer dizer que o blog vai acabar ou coisa parecida. Apenas um acréscimo ao nosso blog.

O "Projeto S.O.S. Cartas" será uma forma diferente de introduzir diferentes pessoas e diferentes formas de literatura ao nosso blog, portanto eu @RafinhaAfonso estarei respondendo e enviando cartas para quem estiver afim de receber. Caso alguém queira, é só enviar o nome completo, idade, CEP e endereço completo para o meu e-mail : rafaelafonso_2009@hotmail.com. Peço-lhes uma coisa, quando enviarem o e-mail coloquem o assunto como " Projeto S.O.S. Cartas ". Assim, ficaram melhor para poder identificar. Já tenho quatro pessoas que envio e respondem as minhas cartas.

Grato, @RafinhaAfonso

terça-feira, 29 de maio de 2012

Andreia.


Era inverno e nunca esteve tão frio. A vontade que eu tinha de sair outrora, agora estava quase nula. Passava dias em casa com um chocolate quente ouvindo a TV. Saia apenas quando era necessário e saia andando à passos rapidos para que eu convivesse menos tempo possivel com esse vento gélido e esse ambiente quase sem sol. Amigos me procuravam para sair, mulheres me procuravam para sair, mas eu não tinha animo. Preferia o aconchego da minha casa, sozinha. Minhas maiores aventuras eram quando pegava algum livro para ler. Não que estivesse reclamando disso, pelo contrário, achava maravilhoso. Parecia que eu estava passando por uma temporada sem humanos. Sem civilização.

Esse ambiente que, era nada mais nada menos do que eu e somente eu, me proporcionava um ótimo lugar para não pensar em você, para espairecer as ideias, os sentimentos. A verdade, Andréia, é que quando vou lá fora imagino nós duas e as lembranças do que um dia foi bom invadem minha cabeça, estou inclinada a apaga-las de minhas memórias e dessa vez sem utilizar o alcool ou qualquer outro tipo de droga. Estava lidando, pela primeira vez, com o problema sobriamente. Você sentiria orgulho de mim.

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que nos vimos. Você sempre fora muito timida, e eu muito extrovertida – para não dizer, enturmante – conversamos naquela roda de amigos, naquele bar qualquer, se lembra? Claro que deve se lembrar, você cuidou de mim por que estava morta de bebada. Mas foi por essa situação, para lá de embaraçosa, que consegui seu numero.

Acho que hoje em dia você deve me amaldiçoar por ter te ligado no dia seguinte. Você só não sabia que eu já estava encantada por você, entenda que não foi de todo, minha culpa. Afinal, quem mandou ter esse charme?

Andreia, agora que não estamos juntas eu posso dizer que em todas nossas brigas – e olha que foram muitas – eu tive medo de terminarmos e isso me fazia ver o valor que você tinha para mim. Não conseguia dizer antes por que meu orgulho nunca deixava, como você sofreu com ele né? Me perdoa?

Eu sinto sua falta e gostaria muito de ouvir sua voz agora. Foram 3 anos de muitas felicidades. Lembra dos nossos planos? Que um dia viajariamos para alguma cidade do interior e ficaríamos somente nós duas? Teríamos um sitio com várias arvores e animais, veríamos o nascer do sol de um lugar previlegiado.

Sinto falta do seu sorriso, do seu olhar, do seu cheiro. Me contive para não deixar as lágrimas descerem pela minha face enquanto era invadida de lembranças suas. Seus beijos, seus abraços, suas ideias de mundo perfeito, seus sonhos. Pensando bem, tudo me lembra você. Por que você teve que ir?

Se lembra do nosso aniversário de 3 anos? Deve se lembrar, aquele foi um dos piores dias das nossas vidas. Você acordou e disse que não se sentia bem, fomos direto para o hospital e você passou a noite lá. Depois de uma semana sem saberem o que era, você foi diagnosticada com uma doença sem cura.

O nosso ultimo ano foi intenso, você tentava lutar contra doença e eu tentava lidar com o medo de te perder. Vivemos fluindo como o ar, deixando-o nos levar para onde fosse, tentava te fazer feliz até quando parecia não ter como. Aos poucos você foi deixando de lutar até que um dia você dormiu e não acordou. Ainda estava tentando lidar com o medo de te perder.

Soluçava em lágrimas enquanto ainda escrevia trechos de um romance que parou na metade. A melodia era calma mas carregada de sentimentos fortes. As lembranças deveriam ficar em memórias, mas as memórias estavam tão vividas que parecia que podia ve-la em minha frente, sorrindo para mim. Depois de muito tempo sem te ter estava começando a delirar. Afinal, fazia dois meses que você morreu e minha alma ainda estava de luto e parecia que esse luto ainda ficaria por bastante tempo. Sempre fui covarde para exibir meus sentimentos, e hoje me arrependo duramente por não te-lo exposto quando deveria. Andreia, nunca te disse um “eu te amo” do jeito que você merecia. Mas você foi a pessoa que mais me proporcionou felicidades e seguir a vida sem você será dureza, o que será de mim sem seu afago? Sem seus conselhos? O que será de mim sem você? Não sei se existe um Céu ou um Inferno, não sei nem se existe alguma coisa depois que você é levada por Morfeu. Mas eu sei que você está em um bom lugar, de alguma forma eu sinto isso.

Então Andreia, antes que eu parta suas memórias de mim. Antes que eu jogue suas lembranças ao mar e despeça suas cinzas ao vento. Então Andreia, eu tenho que lhe dizer essas três palavras que nunca faltaram para mim, mas que para você sempre foram raras. Eu tenho que dize-las por que sempre fizeram parte do que eu sinto por você, sempre fizeram parte de mim, de nós e deixar de dize-las é o mesmo que admitir que o que tivemos nunca fora o suficiente para mim, e isso não será verdade, alias, muito longe disso. Quem diria que iriamos acabar assim? Já não controlava minhas lágrimas e nem queria. Já não controlava minhas dores e nem queria. Já não controlava meu coração despedaçado... e nem queria. Segurando o presente que você me deu antes de morrer, segurando aquele colar de pingente em formato de coração e olhando para aquela arvore, a nossa arvore cheia de flores que fazia um contraste com o sol que ao longe ia se pondo, sussurei um “Eu te amo”.

Fenomeno do uso


Conheci um rapaz bonito e muito inteligente. Saímos umas duas, três vezes. Me diverti muito aquelas noites. Conversamos sobre vários assuntos e criamos teorias diversas para o mundo. Tomamos uns drinques, rimos. Acordava todo dia de manhã com uma mensagem dele. Tudo estava bem. Até nós irmos para cama. Foi então que ele começou a ficar frio, parou de ligar. Não quis mais me chamar para sair. Aos poucos os momentos que nós tivemos não passaram de vagas lembranças que eu nem sequer sabia se realmente tinha acontecido ou se era fruto de minha imaginação.

Estava triste, tomando minha quinquagésima taça de vinho, chorei. Estava irritada. Magoada. Melancolica. E fiquei me perguntando o que fiz de errado. Tomei porres. Tomei dores. Tomei aspirinas, tomei chuva de lágrimas que não secavam de noite. Tomei sermão, tomei toneladas de café. O que antes era minoria, começou a se tornar excesso para retirar todas as memórias que eu havia guardado com tanto carinho. Minha melhor terapia. Se era só por isso que ele me queria, se era só para ter uma noite de relação, por que ele já não disse logo? Por que ele esperou meu coração estar entregue? Eu não quero mais isso. Não procuro mais relações infantis como esta.

Conheci um rapaz bonito e muito inteligente. Diferente do outro. Saímos umas duas, três vezes. Ele me fez esquecer que estava de coração partido. Nos divertimos juntos, conversamos e rimos. Falamos de politica à bobagens. Mandava mensagem para ele todas as manhãs, gostava de ve-lo e ouvir sua voz no telefone. Fomos para cama.

No dia seguinte sumi.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Vontade.



A Vontade chega por meio dos ventos, atravessa meus poros, se dirige para meu sangue, invade minhas células, meus núcleos, invade meus átomos e cada particula menor ou de maior intensidade. A Vontade pouco a pouco domina minhas moléculas, meu sangue, meus orgaos, meu corpo, domina enfim minha essencia.

Aos poucos vou me transformando em vontade. A Vontade me expressa. Toma conta de meus movimentos, de minhas ações e de cada pedaço de meus pensamentos. Dentro de instantes minha alma é envolvida por completa pela Vontade.

Em movimentos lentos e sutis, quase como em uma dança, a Vontade ergue meu braço, e em uma canção de um soneto só, ela dá passos em direção a minha escrivaninha. A Vontade vive sem o tempo e ignora o espaço. A Vontade está acima das leis do homem e está em conjunto com as leis da natureza.

Me sento e respiro fundo, a Vontade está transformando aos poucos meus objetivos de vida, meus assombros, minhas delicadezas. A Vontade transforma meu quarto, as coisas, minha casa, a rua lá fora, o céu e o sol. Cria seu próprio ambiente, seu próprio mundo.

A Vontade então ergue meu braço e pega a caneta, rabisca algumas coisas no papel. Expõe meus sentimentos, minhas ações, meu espirito. Descreve meus sonhos, minhas dores e engustias, descreve minhas alegrias, meu conceito de felicidade.

Não satisfeita, a Vontade cochicha em meus ouvidos como são seus abraços, seus beijos, sua voz. Me conta sobre seus cheiros, sobre seus sonhos. Me detalha sobre sua dança, seus gostos, me descreve seu sorriso, seu choro. A Vontade então, contente e determinada escreveu o que a originou, a sua criadora. Ela escreve com meu sangue, como parte de mim que eu jamais conseguiria descrever, a Vontade então escreve “Amor” junto ao teu nome.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Madrugada.


00:00

Minha mente só poderia ser caracterizada por uma palavra: confusão. Parecia que eu havia comprado uma passagem no tempo, no meu tempo, e pude visualizar todas as meninas que eu tinha ficado, quantas bocas beijei, quantos abraços dei, com quantas fui para cama e, principalmente, quanto dei atenção à elas. Acho que é uma daquelas épocas humanas que sua vida entra em colapso. É como se houvesse uma linha, pouco nitida mas tênue, que representava o equilibrio, E então alguém chegava e colocava o dedo nessa linha, afetando o equilibrio do corpo inteiro. Me via como uma marionete do espaço-tempo. E esse dedo nada mais é que uma mulher. Sempre é.
Não há tempo para reorganizar as ideias. Não tenho como perder tempo em meus objetivos por que meu campo sentimental está desequilibrado. Há uma mudança chegando, tem o emprego que não para de surgir novas papeladas. Estou ocupado demais para isso. Então por que o olhar daquela mulher não sai da minha mente?

03:00

Ainda não conseguia dormir. Aquele beijo, aquele abraço ainda está em mim e o cheiro dela está impregnado na roupa da ocasião. Em minhas mãos há um cartão, o cartão dela. Com certeza a insegurança bateu em minha porta por que a unica coisa que eu conseguia fazer com aquele cartão era observar. “Jessica Cardoso” em letras personalizadas mas que ainda mantinham o ar discreto que ela apresentava e embaixo havia seu numero, que aquela altura do campeonato eu já o havia decorado.


04:30

A insonia já me causava exaustidão, implorava para meu corpo dormir mas minha mente ainda estava à todo vapor. Levantei da cama e fui em busca de um copo com água, era o melhor que eu poderia fazer esta noite. Na escuridão do pequeno apartamento somente a luz da geladeira iluminava o ambiente, não sei se é por que andei pensando demais sobre meu tempo cronológico com mulheres ou se realmente tinha esse ar, mas o ambiente dava uma sensação de solidão. Acho que estou começando a ficar louco. Esqueça essa maldita mulher!

05:30

Sentei-me no sofá afim de distrair minha mente, liguei a TV e estava passando um daqueles cartoons da madrugada. Aos poucos não percebia mais se era o mesmo desenho ou um diferente, estava pensando no toque dela, no beijo, na conversa. Porra. Já havia preparado um sanduiche e desistido de tentar dormir, já não me restava mais nada além de ficar com minhas lembranças e curtir a insanidade que havia começado. Por que sempre que minha vida está tranquila aparece uma mulher para me desestabilizar? Putz, não posso passar 6 meses sem ter nenhum tipo de confusão. Resmunguei um “mulheres”.

06:00

Estava na minha varanda, sentado em uma cadeira coberto por uma manta enquanto tomava um café, definitivamente tinha desistido de dormir ou de tentar pensar em outra coisa. O sol já estava aparecendo no horizonte e eu me perguntando o que meu falecido pai diria. Nada veio em minha mente. A cada gole de café vinha lembranças, dolorosas lembranças. Mais precisamente quantas vezes eu me apaixonei por uma mulher e tive meu coração partido. Ou quantas vezes mulheres se apaixonaram por mim e tiveram seus corações partidos. É verdadeiro então em que corremos em círculos. Uma hora você é a caça, na outra, o caçador. E naquele momento eu me sentia a caça. Vulneravel, acuado, paranóico. Já estava dando a hora de me arrumar para o trabalho mas não conseguia mover um dedo, meu olhar havia se perdido naquele horizonte meio laranja-amarelo à espera que o sol pudesse me dar uma resposta.


08:00

Apesar de não ter dormido não estava cansado. Parecia até que havia sido curado de alguma coisa dentro de mim. Estava animado, apesar de tudo. À caminho do trabalho estava pensando em quantas chances teria de ve-la novamente, por ação do Acaso. Mesmo sendo péssimo em matemática, não precisava ser um genio para saber que as chances de me encontrar com ela por força do Acaso eram minimas. Olhei para o cartão novamente. Fui levado por uma onda de insegurança e covardia. Virei-me para encarar o sinal vermelho afim de esquecer essa ideia maluca de ligar para ela ou qualquer coisa parecida. Impaciente. Mau-humorado. Ansioso. Ela era uma mulher maravilhosa, tivemos bons momentos, então por que diabos não consigo ligar para ela? Homem velho acostumado com velhos hábitos, as mulheres sempre foram atras de mim, essa é diferente. Ser humano em qualquer idade tem que mudar seus hábitos. Criar um novo círculo. Tornei a olhar o cartão que estava em cima do banco do passageiro. Ontem foi caça, hoje é caçador.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

A menina dos olhos Parte 1

Eram dez horas da noite e ainda estava se maquiando, à espera do grande evento que acontecia na cidade. Mas não estava animada, na verdade, estava bastante insegura. Parece que estava prevendo que hoje aconteceria algo... e algo ruim.

Há três semanas conheceu uma menina especial. Beijos, abraços, caricias, conversas, risos. Estava em boas vibrações. Ela era bonita, inteligente, engraçada. As coisas andavam bem. Se encontravam muitas vezes durante a semana. Sonhava com ela. Pensava nela. Assim como ela também sonhava e pensava. Seu repertório musical estava mudando aos poucos para algo mais profundo, mais intenso, mais apaixonante. E aos poucos as barreiras que tinha, estavam afundando. Ela pediu para não se apaixonar, mas as coisas saíram de controle para ambas.A voz, a dança, mudaram para movimentos sutis, leves daqueles que deixava-se fluir com o vento, com o coração.

E ontem soube que ela conhecera uma amiga de amiga. Não seria grande coisa se essa menina não a tivesse flertado loucamente na noite passada, não seria grande coisa se não estivesse com ciumes. Era dificil admitir, quanto mais falar em voz alta o quanto ela estava gostando daquela menina bonita. Verdade que não tinham um relacionamento, verdade que não tinham um namoro, mas tinham algo, não qualquer tipo de algo, algo superficial ou industrializado. Tinham algo profundo, louco, macio que deliciava a cada instante que passava ao lado dela. Deixou de fazer trabalhos, deixou de descansar para estar junto dela, deixou-se de lado por um instante. E desse instante se fez a eternidade.

Não conseguia esconder o ciumes, a insegurança e a angustia que o simples ato de adicionar fez. Por que esse contato que ela tinha com essa menina era tão estranho, tão desconfiado. Havia malicia absoluta. E as horas que antes corriam tão rapido passavam tão devagar enquanto esperava sua carona chegar para ir ao tal evento. O nervosismo não conseguia se esconder. Disseram que estava paranoica, mas sabia, no fundo sabia. Um pressentimento, um sexto sentido, não se sabe.

Perguntava se faltava alguma coisa: Roupa especial, maquiagem, olhos determinados, sorriso simpatico, faltava algo? Ah sim, claro, quase se esquece do amor-próprio. Não pode faltar jamais.

E lá estava uma menina-mulher se maquiando em frente ao espelho, com sua melhor roupa, com seu melhor sorriso se maquiando para ir à um evento qualquer para encontrar por acaso uma menina não-qualquer no meio de uma multidão que não faria-lhe falta. Havia naquele espelho o reflexo de olheiras, de preocupação, de ansiedade, existia cansaço e ao mesmo tempo determinação, euforismo, agitação. Havia naquele espelho uma mulher que estava lutando para não sentir a dor de um coração partido e ao mesmo tempo uma menina que teimava em dizer que existia o amor.

Foi naquele momento que sua carona chegou, e naquele instante não saía de lá uma menina-mulher com medo de perder um amor, saía de lá uma guerreira atrás de suas conquistas.

A menina dos olhos Parte 2

À caminho do show, o ambiente estava descontraído no carro, mas dentro dela havia um turbilhão de pensamentos sem lógica, fragmentos de memórias recentes carregados de emoções fortes que atingiam o peito com uma velocidade quase que arrebatadora. Ficara quieta o trajeto inteiro, as curvas levavam frases que a faziam ficar tensa “promete que não vai se apaixonar por mim?” e a cada sinal vermelho vinha um flashback “eu não me apaixonei pela sua voz”, do lado de fora a menina-mulher estava calada, nem uma palavra. Do lado de dentro parecia que estava em uma camisa de força lutando contra sua própria insanidade. A angustia deu lugar a raiva e o cenário do trajeto deu lugar as lembranças. A visão parecia embaraçada, precisava de um cigarro, precisava de um trago de bebida forte, parecia querer estar matando seu interior, seu lado doce e gentil, o lado menina.

Ela estava no meio da multidão, com amigos, bebidas, cigarros, ela estava rindo... parecia saber onde estava mas no fundo havia se perdido, sem saber que rumo tomar ou que caminho escolher, estava mergulhada em outro universo tentando juntar os pedaços dela que ali faltavam. Precisava encontra-la, precisava saber se estava tudo bem, queria acreditar que os pressentimentos eram alarme falso, era coisa de sua cabeça. Estava sufocada, sozinha. A cada pessoa que ia se juntar ao grupo a menina já se perguntava se não era ela e a cada rosto semelhante o coração já disparava. Dançava sozinha, uma dança pesada, lenta, forte, carregada de nostalgias, sua voz não saía, sua canção foi parando a cada verso, estava perdida nas estrofes, entre notas desconcertadas. O ambiente sumiu, não conseguia ficar em pé, queria se deitar no chão e ali ficar.

Fechou os olhos, se concentrou em voltar para o mundo real, aos poucos sentiu o cheiro do concreto, as risadas das pessoas, sentiu a musica que tocava, sentiu-se presa e quando acordou seus olhos encontraram os dela. O tempo parou e os segundos pareciam se tornar eternidades. Naquele momento não existiam pessoas, não existia musica, não existia chão. Existia dor. Se imaginou em um abismo e caindo aos poucos, chegou ao fim transformando as lembranças em realidades, sentimentos com racionalidade, fantasia em consciencia. Por que ao mesmo tempo que seus olhos se encontraram, os olhos também encontraram as mãos se soltando. Ela com outra. Respirou fundo, guardou a lágrima para depois e de menina-mulher voltou a ser guerreira.

  • Onde está a Tai?

  • Está ali com a Moara.

  • Com quem?

“A menina que você beijou se chama Moara, porra, Moara!” A menina levou um susto, houve exaltação. Tudo pareceu muito confuso e então virou um tiroteio. Ninguem ali sabia o que estava acontecendo, mas sabia a intensidade da cena. O tempo, tenso, começou a rodar devagar como se quisesse dar enfase aos detalhes que a memória depois tornaria a puxar. A guerreira então se encontrou com seu maior obstaculo. Você ultrapassa 500 barreiras e quer parar agora? Injusto. Infantil e extremamente desnecessário. Se cumprimentaram como se fossem velhas conhecidas que não se reconheciam. Olhar vazio, não sentia os toques, o dialogo parecia querer dizer algo que nem as duas sabia o significado enquanto isso a voz dela pesava em sua mente. Queria desabar, mas era forte.

  • Ta tudo bem?

  • Sim, só estou com dor... Estou sempre com dor quando você me vê, né?

A menina parecia procurar algum sentido naquela conversa, procurava em meio a olhares vazios um sinal, não encontrou. Então foi embora se despedindo seca, sem emoção. E vendo-a partir para longe não pode deixar de perguntar: o que está acontecendo? Ninguem soube responder, ninguem nem ao menos conseguiu digerir. Parecia então que aquela meia dúzia de pessoas viraram parte de um corpo só. E eles sentiram, não tão intenso quanto a menina, mas sentiram a dor de um coração partido.

Fingiu não acontecer nada, parecia não entender, até a hora que uma de suas amigas trouxe a noticia com convicção. Elas ficaram. E então tudo começou a fazer sentido, o soltar de mãos não foi por que eram grandes amigas e sim, por que eram amantes. Comecei a me perguntar por que deixei as coisas irem tão longe, tão fundo.

  • Você não ia me contar?!

  • Ia, mas mais tarde, não queria te ver assim.

Depois disso comecei a pensar em tudo. Desde o momento que a conheci até agora. “Se ela não se importa comigo a ponto de ficar com outra pessoa então por que soltar a mão? ” Remoía a pergunta e não encontrava resposta, não encontrava lógica. Prometi à mim mesma que não deixaria acontecer, que permaneceria forte, que colocaria mais e mais barreiras pra manter o sentimento distante e assim não sofrer. As lágrimas magoadas caíam junto com meus muros, me tornei vulneravel, frágil. Justo eu que fugi disso por tantos anos. Naquele momento não sabia em que pensar. Estava oca. Não senti o chão, as pessoas. Tudo que queria era entender em que momento perdi o controle. Parecia egoismo, podia até ser, mas porque deixei ela entrar na minha vida? Por que agora, dessa forma? As lágrimas não se continham. Um minuto de controle, um meio sorriso e lá estavam elas novamente, deixando claro mais uma vez que não adiantava negar. E se eu não tivesse dito “Gosto de você”, se tivesse parado antes mesmo de começar, se, se e se... Burra, estúpida. Não deixe que alguém entre em sua vida de novo, não sinta. É isso que acontece quando as pessoas se deixam levar. Me martirizava como se fosse resolver algo, como se a culpa fosse toda minha. Quis voltar atrás. Tarde demais.



Participação especial de Moara Ribeiro

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

E quando o carnaval passar...

Eu não sei muito bem o que dizer nessa carta, além do amor que eu tive por ti e pela saudade que você me trará. Infelizmente nós não somos mais as mesmas. O sentimento foi diminuindo aos poucos, as mudanças vieram e estava em uma hora que o tempo nos entregou outros ventos. Eu espero, de coração, que você se divirta muito, que você ame muito e que viva intensamente, como vem vivendo. Te desejo menos lamúrias, menos tristeza, menos decepções. Te desejo o melhor, por que você merece.

Começou devagar, com uma amizade, parecia que nao ia passar disso. Sem querer você foi me conquistando. Posso nao ter sido a melhor pessoa do mundo, tivemos nossas brigas, nossos momentos de afeto. Tivemos o nosso tempo. Parecia que a distancia nunca havia estado ali. Eu tive medo de te perder, menina. Passou rápido. Passou o meu aniversário, o Natal, o ano novo e aqui estamos, em pleno Carnaval e mal nos falamos, é ruim quando isso acontece né? Assim, do nada. Não vou dizer que não era esperado, mas achei que demoraria mais, sabe? Esse sentimento de eternidade momentanea. É o que acontece quando amamos, achamos que é para sempre nos esquecendo que o tempo age mais rápido do que nós esperavamos e logo vemos que a distancia entre nós vai se tornando cada vez mais concreta. E aqui estou eu, com o sentimento de nostalgia e saudade de conversas jogadas fora, saudade de você, escrevendo essa carta. Pode ser que você não leia, é verdade. Pode ser que nem dê atenção, também é verdade. Mas eu precisava mesmo assim, jogar para fora aquilo que nao estava me fazendo bem, precisava dar um basta nisso para que eu pudesse seguir minha vida sem peso na consciencia. Fechar a porta.

Você foi a primeira pessoa que amei e você sabe disso. E mesmo que o que tinhamos entre nós tenha acabado de forma tão desajeitada, ainda assim, eu faria tudo de novo se pudesse escolher. Me ensinou várias coisas, mesmo que sem querer. Me fez ter experiencias novas. Conseguiu fazer com que eu quebrasse alguns muros que estavam ao meu redor. Eu devo à você isso. Não esquecerei do seu nome ao brindar pela nova vida.

Não sei se estaremos bem quando seu aniversário vier, sinto que ainda preciso comprar um presente. Estou lhe devendo isso. Eu estava deitada em minha cama em mais uma noite de insonia e de repente me bateu essa vontade louca de te escrever. Me deu vontade de te dizer "oi", de perguntar se estava tudo bem, o que estava fazendo, me bateu saudade de dizer que te amava, mas agora... Mas agora, nao posso mais dizer isso, seria mentira minha, não seria? Parece tudo tão triste, mas não estou em clima de luto. Gostaria de ter lhe dito tudo isso muito antes, acho que tive medo de realmente te perder, porém agora não importa mais. O que importa é só dizer tudo isso, e pedir para que se cuide. De verdade, se cuide. Não aguentaria saber que você está passando por maus bocados. Eu ainda presto atenção em você. Então... vê se para de fazer merda por aí. E no final, tudo o que eu tenho à dizer é, boa sorte com sua nova vida.

PS: ainda não me esqueci da minha promessa, mas cabe à você decidir se vale a pena ou não cumpri-la.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Conto de fadas.

Estávamos todos no bar, comendo, bebendo, rindo. Nada de especial, nada que pudesse ser o ponto alto da noite. Pudera, era quarta-feira. O bar nem estava tão cheio assim, para falar a verdade, tirando a nossa mesa, eram mais 4 ou talvez 5. Já estavamos à beira da embriaguez quando uma mulher se aproximou de mim. Olho com olho, o mundo parou. Arqueei as sobrancelhas para demonstrar minha confusão. Ela não era só uma mulher qualquer. Nunca é, não é mesmo? Por trás desses encontros aleatórios ( ou não ) sempre tinha uma história, na maioria das vezes, triste.

Essa história não era diferente, não tinha uma página só dela, não era um caso isolado, muito menos um capítulo a mais. Era igualzinha a todas as outras. Aconteceu que eu conheci essa mulher, aconteceu que eu a chamei para sair e … Aconteceu. Loucamente apaixonada por ela. Mas não, eu não era tão burra, ou será que fui? Provavel que tenha sido, mas meu orgulho não me deixaria confirmar isso. Um dia, pela manhã, estavamos na cama, acabando de acordar de uma noite de amor, estava tudo bem. Conversa normal, caricias normais, até o café era o mesmo. Quando o sorriso lindo dá lugar a seriedade perigosa. E então aquele conto de fadas começou a mudar.

- Renata, tenho que te contar algo. - não gostava quando a conversa começava por ai... - Eu queria te dizer isso há muito tempo... Só não conseguia por que você me faz um bem tão grande que eu não queria estragar tudo isso. Mas eu preciso te dizer. Não por que eu quero, por que sei que tudo o que fizesse agora vai para o ralo, mas... não ando sendo uma pessoa digna..

- O que? - interrompi – Fale logo, Andreia!

- … Eu tenho uma namorada.

O resto vocês já devem saber como foi, choro, gritaria, dor, chocolate, reclusa. Nem preciso dizer o quão mal fiquei, porra, eu me apaixonei por ela e nesse dia eu percebi que era tudo uma ilusão. Os corações partidos que lerem isso, devem imaginar a dor que senti. Mas passou um tempo, e ainda bem que o tempo é o melhor cumplice para ajudar a catar os restos do coração. Para ser exata, passou um mês.

E lá estava ela, na minha frente. Meu coração parecia explodir. Ficamos nos encarando, eu não conseguia dizer nada e parece que ela tampouco.

- Renata... - acho que ela não sabia bem como começar. Se fosse outra época eu acharia tudo isso muito engraçado. Mas eu estava curiosa e séria, como nunca estive na vida. Ela mexeu no cabelo com as mãos, meio que sem jeito. - ... Eu não consigo te esquecer, e cada segundo que estive longe de você parecia que tudo era um vazio. A sua falta me traz uma tristeza muito grande. Terminei com a minha namorada uma semana depois, não estou querendo te provar nada, mas é que eu não conseguia vê-la da mesma forma, o meu coração já não era mais dela. Eu sinto sua falta, e... eu poderia dizer que se eu voltasse atras sairia tudo diferente, mas ficaria pior. Não teria me encontrado com você, tampouco lhe beijado e aí, eu não descobriria o amor que sinto por você. Sim, eu te amo e sei que fiz merda sem tamanho, não estou pedindo um perdão, não estou pedindo uma chance, estou pedindo um recomeço e se você por acaso pudesse esquecer as dores que te provoquei e pudesse começar tudo de novo, eu faria do melhor jeito possível, por que agora eu tenho muito o que perder. E aí, você topa?

Não preciso dizer que a mesa toda estava muito quieta. Não preciso dizer que eu estava muito quieta. Não consegui processar o que ela dizia, não conseguia lembrar das palavras ou sequer que eu tinha um chão. Atitude inesperada, surpresas. Ela era mesmo uma caixa de bombons. As frases aos poucos iam caindo na minha mente, acho que demorei demais para esboçar alguma reação, ela fez uma cara triste e foi dando meia-volta. Meus amigos não pronunciaram palavra alguma, silêncio. Aquela era a mulher que eu estava apaixonada, ou melhor, que eu estava amando, indo embora na calçada com um semblante triste. Se eu ficasse lá, eu a perderia. Eu perderia uma parte feliz da minha vida. Entre prós e contras minhas mágoas estavam pesando demais naquela balança. Foi então que compreendi o que o tempo queria me dizer. Me levantei de súbito, me preparando para ir ao seu encontro quando um amigo me puxou pelo braço e me disse “Não acredito que vai atras dela! Ela te magoou muito” e retruquei no automático “A vida é curta demais para nos prendermos as magoas do passado.” puxei meu braço para perto de mim e sai correndo para alcança-la. A calçada nunca foi tão longa. Cheguei passando a mão em seu braço até chegar na mão, que apertei com carinho e não soltei. Dei um beijo na bochecha e sorri.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Ela se sujava toda comendo aquele sanduiche, usava os guardanapos dela e os meus. Eu ficava prestando atenção nos pequenos detalhes que homens normais deixavam passar. Para mim, ela era meu todo. A parte que faltava, mas claramente, eu não era nada para ela. E isso ora me incomodava, ora eu deixava passar como se não ligasse. Sempre fui bom nisso. Tentar ser frio com as coisas que mais apertavam o coração. Fato relevante é que nunca fui bom com saídas, com as partidas das pessoas, ou dos objetos, ou até mesmo de capítulos. Gostaria de partir? Entao que vá! Mas vá ligeiro por que quanto mais longo for, mais pesado estará meu coração e quando terminar nao restará mais nada, apenas fragmentos de histórias retorcidas e corações partidos. A distancia as vezes é rapida e perceptivel, as vezes lenta que quando bate na porta você nem se deu conta que já esteve lá. E quando perceber, aquela pessoa que sempre esteve ao seu lado não passa de mais um vizinho. Daniela, a menina do sanduiche, foi embora tão rapido que nem notei que estava no aeroporto vendo o avião se distanciando cada vez mais, o abraço dela ficou ali comigo por um tempo, antes de desaparecer e virar apenas mais uma parte de minhas memórias. Nos filmes, o mocinho teria saído correndo e dizendo "por favor, fique! Eu te amo" e a mocinha iria dizer "tudo bem, por você eu perco minha viagem à Paris, eu sempre te amei"... engraçado que se alguém fizesse isso na vida real seria mais ou menos assim "por favor, fique! Eu te amo" e ela responderia secamente "desculpa, você nao é o que eu procuro" , SE É QUE ela responderia coisa alguma.

Ao invés disso, dessas hipoteses em meus pensamentos, eu fiquei parado. Talvez tenha desejado boa viagem com secas lágrimas nos olhos. Talvez eu apenas acenei. Não me lembro direito. Estava tão desnorteado. O primeiro amor é sempre a maior decepção na vida de qualquer pessoa. Meu psicólogo terá trabalho na segunda.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Antes de ir,

Acho que você nunca lerá isso. Assim gostaria que fosse. Não seria de meu agrado ter que lidar com as estranhezas que nossa amizade se tornaria por uma simples carta, uma simples declaração. Então, se um dia chegar a lê-la, que por favor, nada mude entre nós.

Tenho um comunicado para fazer... O que eu sinto por você, Ana é tão forte, tão intenso, tão profundo que se eu fosse lapida-lo, se eu fosse... concretiza-lo, não conseguiria mais amar pessoa alguma, me apaixonar ou beijar qualquer outra pessoa que não fosse você. Por que eu seria sua, Ana, e de mais ninguém. Ouso até dizer que na vida e na morte. O que seria triste, por que você não seria minha. Eu tenho medo do que sinto por você, por que é tão.... denso.

Antes de ir, eu tenho que te dizer que imploro para que não vá, me sentirei só. Eu não sabia o quanto sentia essas coisas por você até estar em um show e de repente cair a ficha. Me perdoe se fui tão tola para crer que não sentia coisa alguma. Me perdoe pelas besteiras que fiz. As meninas que eu me relaciono ou ainda vou me relacionar deveriam sentir ciumes, deveriam se sentir inseguras por sua causa, por que você me causa essa insegurança.

Leve um pedaço de mim contigo enquanto guardo o que sobrou de você. E que acima de tudo, Ana, seja feliz. Na sua nova vida, com seus novos amigos e amores. Seja feliz, por que se não for, jamais me perdoarei.

Antes de ir, por favor me beije, me dê o ultimo abraço, o ultimo sorriso, a ultima conversa. Antes de ir, por favor me traga aquela calma que sempre me trouxe. E então vá, parta logo antes que eu chore, antes que eu tente lhe impedir. Pegue suas malas, pegue suas roupas, seus cheiros, mas lembre-se que a chave de casa estará naquele mesmo tapete.

Me prometa só uma coisa, me prometa que volte.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

diferenças

Eu sempre fui uma pessoa que se interessava por festas. 23 anos. Loira. Estatura média. Cabelos curtos. Tatuagens? Sim. Piercings? Também. Podemos dizer que eu gostava de sentir a dor... Se eu acreditava em Deus? Não. No amor? Muito menos. Minha alma pertence ao mundo. Me considero livre na medida do possivel. Flexivel.

Mas essa não é a minha história. Não é sobre mim. Alias, não é SÓ sobre mim. Tem uma outra personagem principal. Uma que provavelmente, vocês leitores, vão gostar mais do que de mim. E digo isso por que eu gostaria mais dela do que de mim se eu fosse uma terceira pessoa. E sabem por que? Por que ela é uma pessoa apaixonante. Dos pés a cabeça, das moléculas à alma. E isso, e isso, meus caros... Me deixava cada vez mais louca por essa mulher.

Sempre uma pessoa caseira. 21 anos. Negra. Um pouco mais alta que a media. Cabelos cacheados. Meu corpo não tinha tatuagens ou piercings, não precisava disso. Se acreditava em Deus? Não. Se eu acreditava no amor? Com toda e absoluta certeza. Gosto das viagens mais loucas. Da natureza e era escrava de meus sonhos.

Eu não saberia dizer por que fui a balada nesse dia, acho que estava ficando um pouco cansada da solidão caseira. Quero dizer, se eu tivesse alguma companheira, a história seria outra. Perda de emprego, longe da familia, tava dificil de me sustentar emocionalmente para qualquer coisa. Eu precisava ficar bebada. Descontrolada. Louca. Também não sei por que fui nessa especificamente, tive um pressentimento que era essa que eu queria. Comecei tomando uns pileques até conseguir me soltar, me tornar selvagem dentro daquela floresta urbana. Música eletronica, mulheres bonitas. No começo dançava timidamente mas, depois que o alcool foi entrando, me senti liberta. Fui mesoltando aos poucos, deixando minha cabeça leve, curtindo a música, tomei umas cantadas aqui-e-acolá, mas nada que me interessasse muito. Eu não precisava de alguem para agora, precisava de alguem para o momento. Me julguem. Uma das minhas frases preferidas. Foi descrito por uma amiga minha. E ela seria mais ou menos assim “o gostar estar para o agora, como a paixão está para o momento e o amor está para o sempre”. Então, eu precisava de alguem para ser o meu momento ou talvez, o sempre. Mas isso não me impedia de tomar uns xavecos e dar uma paquerada.

Começo da noite. Bebi tudo o que tinha para beber. Me animei. Fui até a pista de dança e comecei a me desprender do mundo, fazia muito tempo que eu não ia nesse lugar, mas pelo visto, nada mudou. Mesmas pessoas, mesmo papo, mesma pegaçao, blá blá blá. Fui ao banheiro e quando voltei tinha uma garota nova -e digo nova por que ela era carne fresca naquela balada – tomando conta da pista de dança, me interessei. Mas antes de voltar, vou pegar logo essa menina que está me dando mole. Beijos, amassos, carinhos, numero de telefone – que eu por acaso nunca ligarei –. Corri para a pista para ver se a garota ainda estava por lá. Dei sorte. Entrei na pista dando tudo de mim, cheguei a ficar cara-a-cara com ela. Dançamos juntas algumas músicas, troca de olhares. Eu tava começando a fazer o jogo dela. E meu deus, como ela sabia seduzir uma mulher. Pela primeira vez na vida me ocorreu algo, eu estava com medo. Acho que os belos olhos apaixonantes da moça me deixava intimidada. Aquelas encaradas. Aquilo tudo me encantava. Eu precisava daquela mulher para mim.

Entrou uma mulher na pista de dança, era branca, de cabelos curtos, tatuagem e piercing, ela era linda. Não fazia meu tipo, mas era linda. Dançava frente-a-frente, me provocando... E como provocava bem! Mas esse jogo dava para duas, e guria, eu sou uma boa jogadora. Música indo e vindo, parecia que estavamos só nós duas na balada. Eu não sabia qual era a dela, mas estava me divertindo muitissimo, depois tenho que agradecer a moça por isso tudo. Dançamos juntas. Sorrimos. Trocamos olhares. Esse jogo tava ficando rotineiro sem nos tocarmos, vou dar uma sacudida.

Corpo dela junto ao meu. Peito com peito. Pernas perdendo o sentido por um instante. Que o seu Deus me ajude, mas nunca me senti assim antes! Não pude aguentar, tive que passar a mão nos braços dela. Pele macia. Passei os dedos pelos ombros, pelas curvas de seu corpo – até onde o respeito deixava –, passei a mão pelos cabelos dela. Pela face. Não existia mais ninguem na balada. Aquele jogo de erotismo estava me deixando nas alturas. Ela passou a mão pelo meu corpo também. Mexeu em meus cabelos, deu mais um belo sorriso, e em um ato ousado eu a beijei.

Fui me deixando levar pela situação, meu peito bateu mais forte e parecia que ia ser arrebentado para fora de meu corpo, ela me beijou, lábios finos. De repente nem música mais havia no ambiente, senti o coração dela acelerar. Passei a mão nela. Acabou o beijo, estava na hora de ir. Estava cansada, estava feliz. Perguntei seu nome, lhe disse o meu. Conversamos um pouco.

E ela me agradeceu por te-la feito feliz essa noite. Eu também estava, mas fingi que não. Não perguntei sua idade, nem onde morava, nem o telefone. PUTA QUE PARIU, COMO SOU BURRA!

Sonhei com ela.

Não consegui dormir pensando nela.

Não sei direito o que aconteceu ali.

Mas de uma coisa eu tenho certeza...

Eu preciso encontra-la.


segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

mudanças

Toco nas paredes do quarto como se eles envelhecessem com o tempo, como se eles fossem ficando pequeno.

Talvez meu ninho esteja ficando pequeno mesmo para mim. Mas para onde irei? Não tenho casa, não tenho ninguém. Nada.

Malas arrumadas para um lugar que eu não saberia dizer. Passagens aereas para lugares que eu não conhecia. Será que estou indo acompanhada? Voo marcado como sentença de morte, por que parecia tudo tão triste?

Mudanças. Mudanças. Mudanças. Não gosto de mudanças. Parece que é assim, esse soneto de despedida clara mesmo que ainda não tão óbvia.

Cheguei ao aeroporto não sabia onde ir, não sabia para que ir. Estava desnorteada. Sem pressa, subi aos poucos no avião. Passageiros se arrumando em seus devidos assentos, crianças não sabendo o porquê de tudo isso. E o meu medo de voar ainda continuava intacto. Se eu tinha tanto medo assim de um lugar fora do chão, então por que eu comprei essa maldita passagem?

A chuva de perguntas não parecia cessar. O avião decolou. Dei uma cochilada rápida o suficiente para a aeromoça já me perguntar se eu queria água ou refrigerante. Mas minha senhora, será que não percebe o estado que eu cheguei? Será que não percebe que eu nem sei o que estou fazendo aqui? Era o que eu queria perguntar mas teimava em engolir. Aceitei uma água a contra-gosto.

Uma hora, duas horas... duas horas e meia de voo, e enfim desembarquei. Pessoas novas viajando para lugares com destinos feitos, familias, casais, amigos. Todos juntos. Desconhecidos que se entrelaçavam através de voos similares para lugares identicos, eu parecia sozinha, parecia perdida.

Esperei pela minha mala mesmo não querendo faze-lo, minha vontade era largar tudo e voltar para a minha casa, se é que eu ainda tinha uma casa, pelo tamanho da mala parecia que eu realmente iria me mudar.

Sai pelo portão de desembarque como se estivessem me abrindo um novo mundo.Tudo parecia tão novo... tão vivo. Tão...

Então a vi, ali, parada no meio da multidão, me aguardando ansiosamente. Foi ali que me lembrei para onde estava indo, a tristeza foi embora e um sorriso ia se abrindo aos poucos, meu novo lar, minha nova casa. Agora não parecia tudo tão solitário assim. Nos encaramos por um instante como se estivessemos tentando contruir nossa casa ali mesmo, era ela o meu lar. Me fiz em abraços apertados. Larguei minhas malas pelo chão frio do aeroporto, não queria larga-la.


Eu estava pronta para mudar.