Eram dez horas da noite e ainda estava se maquiando, à espera do grande evento que acontecia na cidade. Mas não estava animada, na verdade, estava bastante insegura. Parece que estava prevendo que hoje aconteceria algo... e algo ruim.
Há três semanas conheceu uma menina especial. Beijos, abraços, caricias, conversas, risos. Estava em boas vibrações. Ela era bonita, inteligente, engraçada. As coisas andavam bem. Se encontravam muitas vezes durante a semana. Sonhava com ela. Pensava nela. Assim como ela também sonhava e pensava. Seu repertório musical estava mudando aos poucos para algo mais profundo, mais intenso, mais apaixonante. E aos poucos as barreiras que tinha, estavam afundando. Ela pediu para não se apaixonar, mas as coisas saíram de controle para ambas.A voz, a dança, mudaram para movimentos sutis, leves daqueles que deixava-se fluir com o vento, com o coração.
E ontem soube que ela conhecera uma amiga de amiga. Não seria grande coisa se essa menina não a tivesse flertado loucamente na noite passada, não seria grande coisa se não estivesse com ciumes. Era dificil admitir, quanto mais falar em voz alta o quanto ela estava gostando daquela menina bonita. Verdade que não tinham um relacionamento, verdade que não tinham um namoro, mas tinham algo, não qualquer tipo de algo, algo superficial ou industrializado. Tinham algo profundo, louco, macio que deliciava a cada instante que passava ao lado dela. Deixou de fazer trabalhos, deixou de descansar para estar junto dela, deixou-se de lado por um instante. E desse instante se fez a eternidade.
Não conseguia esconder o ciumes, a insegurança e a angustia que o simples ato de adicionar fez. Por que esse contato que ela tinha com essa menina era tão estranho, tão desconfiado. Havia malicia absoluta. E as horas que antes corriam tão rapido passavam tão devagar enquanto esperava sua carona chegar para ir ao tal evento. O nervosismo não conseguia se esconder. Disseram que estava paranoica, mas sabia, no fundo sabia. Um pressentimento, um sexto sentido, não se sabe.
Perguntava se faltava alguma coisa: Roupa especial, maquiagem, olhos determinados, sorriso simpatico, faltava algo? Ah sim, claro, quase se esquece do amor-próprio. Não pode faltar jamais.
E lá estava uma menina-mulher se maquiando em frente ao espelho, com sua melhor roupa, com seu melhor sorriso se maquiando para ir à um evento qualquer para encontrar por acaso uma menina não-qualquer no meio de uma multidão que não faria-lhe falta. Havia naquele espelho o reflexo de olheiras, de preocupação, de ansiedade, existia cansaço e ao mesmo tempo determinação, euforismo, agitação. Havia naquele espelho uma mulher que estava lutando para não sentir a dor de um coração partido e ao mesmo tempo uma menina que teimava em dizer que existia o amor.
Foi naquele momento que sua carona chegou, e naquele instante não saía de lá uma menina-mulher com medo de perder um amor, saía de lá uma guerreira atrás de suas conquistas.