Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2011.
Cara Izadora,
Em primeiro lugar, peço desculpas pela invasão, sei que não foi certo tê-la deixado em seu quarto, aliás, não era certo nem tê-la entregado,nem feito, nem gastado a tinta da minha caneta ou ter enfrentado meus maiores medos. E digo isso, por que, você sabe tão bem quanto eu que a maior das minhas qualidades nunca foi a bravura, mas os sonhos. E ter tido a oportunidade única de ter enfrentado meus sentimentos para dizer esta carta à você foi como ter uma visão de mundo maior.
Em segundo lugar, peço desculpas, novamente, pelo cunho arrogante que dei à carta, pela insensibilidade, pela frieza, não queria aparentar tudo isso e o fato é que, esta carta, me mostrou algo que eu não tinha conhecimento, ainda sou um mero mortal, ainda amo, ainda sinto medo, ainda sinto frio, ainda sinto angústias, e fui tomado por tudo isso ao escrever a primeira carta. Eu só não consegui me expressar (talvez eu não tinha coragem para tal).
Sinto que nosso relacionamento poderia ter sido sim, melhor. Eu poderia ter melhorado, eu poderia ter prestado atenção nessas coisas sutis que deixava passar. O que sempre apreciei em nosso relacionamento não foi a intensidade dele, e sim a sinceridade, o explícito, o dito. Acontece que me enrosquei no meu próprio nó e não consegui fazer com que a confusão da minha mente pudesse ter sido resolvida. Eu não fui sincero com você e esse deve ser um dos meus maiores arrependimentos em vida. De tantas vezes que pedi sinceridade (e recebi em troca) não pude ser sincero na parte crucial, na peça fundamental de nós.
Izadora, talvez eu tenha me precipitado. Sim, talvez eu o tenha. Talvez no futuro caía a ficha e eu posso ver que tipo de babaquice eu fiz, mas o destino - coincidência, ou o carma - disse que não era para ser. Não para agora. Peço que você pare de pensar no "e se..." e comece a pensar no seu futuro, nos outros homens, nos seus outros amores, na sua nova vida, por que já estou pensando na minha. Parece cruel pedir algo assim, e talvez realmente seja, mas essa é uma das melhores coisas que eu posso lhe dizer no momento.
Uma das suas maiores qualidades, Izadora, é o questionamento, é este certo ceticismo que não consigo explicar, essa chuva de perguntas que inunda o pensamento de qualquer pessoa que por acaso seja vitima. E eu fui pego pelo temporal. Eu não tenho todas as respostas para as suas perguntas, eu não tenho nem ideias para dizer, nem suposições ou hipóteses, pois eu, como mortal que admito ser, não posso lhe dar afirmações de algo que seja do interior, de algo que seja do coração.
É verdade, porém, que as vezes penso "onde nós fomos parar?" por que sim, tínhamos tudo para dar certo, mas assim como romances fora de época, uma hora surge uma primavera precoce para se lançar sobre o inverno.
O que acontece comigo, Izadora, é que eu fui atingido por uma primavera fora de época. E o ar gélido (porém confortável e seguro) do inverno deu lugar ao calor da primavera. E foi nisso, nesse tiro acertado que eu pude ver a diferença clara entre o amor e a paixão. Entre o amor e a amizade, eu amei você.
E repito, eu amei você.
Mas todos nós somos capazes de amar mais de uma vez, seja lá quem ou oquê comande nossas vidas, ele deu a dádiva de amar e amar e amar tantas vezes. E que cada vez é como se fosse uma vida ou uma estação do ano. Não peço que me entenda. Mas você sempre me compreendeu tão bem que eu acho que você já sabe o que quero dizer, mesmo vindo com mais perguntas para respostas que ainda não dei.
Você me pediu dosagens de sinceridade, me pediu coragem, e você poderia ter exigido isso por que era de seu direito tê-las. Mas, como pessoa doce e gentil que sempre foi, pediu. E nesse ato de pedi-las que me fez repensar em meus atos. Me fez repensar em nós.
Izadora de Melo, eu fui,eu sou e serei seu amigo. Sempre terei um carinho, que não conseguirei explicar jamais, por você. E peço que das memórias que tu tenhas de nós, fique com as boas, e que lembremos de nossa história como algo bom, como realmente fora, e não com esse final sem contexto que chegou. Está na hora de partir e encontrar sua própria primavera, que suas estações mudem e que você consiga encarar o frio como algo bom.
Desculpas e votos de arrependimento não farão você se sentir melhor, é verdade, apesar de querer que fosse assim, então cabe à você, livrar-se desse fardo. Eu sei que alguém ainda aparecerá e será sua primavera.
Abraços,
Noel.