terça-feira, 29 de maio de 2012

Andreia.


Era inverno e nunca esteve tão frio. A vontade que eu tinha de sair outrora, agora estava quase nula. Passava dias em casa com um chocolate quente ouvindo a TV. Saia apenas quando era necessário e saia andando à passos rapidos para que eu convivesse menos tempo possivel com esse vento gélido e esse ambiente quase sem sol. Amigos me procuravam para sair, mulheres me procuravam para sair, mas eu não tinha animo. Preferia o aconchego da minha casa, sozinha. Minhas maiores aventuras eram quando pegava algum livro para ler. Não que estivesse reclamando disso, pelo contrário, achava maravilhoso. Parecia que eu estava passando por uma temporada sem humanos. Sem civilização.

Esse ambiente que, era nada mais nada menos do que eu e somente eu, me proporcionava um ótimo lugar para não pensar em você, para espairecer as ideias, os sentimentos. A verdade, Andréia, é que quando vou lá fora imagino nós duas e as lembranças do que um dia foi bom invadem minha cabeça, estou inclinada a apaga-las de minhas memórias e dessa vez sem utilizar o alcool ou qualquer outro tipo de droga. Estava lidando, pela primeira vez, com o problema sobriamente. Você sentiria orgulho de mim.

Lembro-me perfeitamente da primeira vez que nos vimos. Você sempre fora muito timida, e eu muito extrovertida – para não dizer, enturmante – conversamos naquela roda de amigos, naquele bar qualquer, se lembra? Claro que deve se lembrar, você cuidou de mim por que estava morta de bebada. Mas foi por essa situação, para lá de embaraçosa, que consegui seu numero.

Acho que hoje em dia você deve me amaldiçoar por ter te ligado no dia seguinte. Você só não sabia que eu já estava encantada por você, entenda que não foi de todo, minha culpa. Afinal, quem mandou ter esse charme?

Andreia, agora que não estamos juntas eu posso dizer que em todas nossas brigas – e olha que foram muitas – eu tive medo de terminarmos e isso me fazia ver o valor que você tinha para mim. Não conseguia dizer antes por que meu orgulho nunca deixava, como você sofreu com ele né? Me perdoa?

Eu sinto sua falta e gostaria muito de ouvir sua voz agora. Foram 3 anos de muitas felicidades. Lembra dos nossos planos? Que um dia viajariamos para alguma cidade do interior e ficaríamos somente nós duas? Teríamos um sitio com várias arvores e animais, veríamos o nascer do sol de um lugar previlegiado.

Sinto falta do seu sorriso, do seu olhar, do seu cheiro. Me contive para não deixar as lágrimas descerem pela minha face enquanto era invadida de lembranças suas. Seus beijos, seus abraços, suas ideias de mundo perfeito, seus sonhos. Pensando bem, tudo me lembra você. Por que você teve que ir?

Se lembra do nosso aniversário de 3 anos? Deve se lembrar, aquele foi um dos piores dias das nossas vidas. Você acordou e disse que não se sentia bem, fomos direto para o hospital e você passou a noite lá. Depois de uma semana sem saberem o que era, você foi diagnosticada com uma doença sem cura.

O nosso ultimo ano foi intenso, você tentava lutar contra doença e eu tentava lidar com o medo de te perder. Vivemos fluindo como o ar, deixando-o nos levar para onde fosse, tentava te fazer feliz até quando parecia não ter como. Aos poucos você foi deixando de lutar até que um dia você dormiu e não acordou. Ainda estava tentando lidar com o medo de te perder.

Soluçava em lágrimas enquanto ainda escrevia trechos de um romance que parou na metade. A melodia era calma mas carregada de sentimentos fortes. As lembranças deveriam ficar em memórias, mas as memórias estavam tão vividas que parecia que podia ve-la em minha frente, sorrindo para mim. Depois de muito tempo sem te ter estava começando a delirar. Afinal, fazia dois meses que você morreu e minha alma ainda estava de luto e parecia que esse luto ainda ficaria por bastante tempo. Sempre fui covarde para exibir meus sentimentos, e hoje me arrependo duramente por não te-lo exposto quando deveria. Andreia, nunca te disse um “eu te amo” do jeito que você merecia. Mas você foi a pessoa que mais me proporcionou felicidades e seguir a vida sem você será dureza, o que será de mim sem seu afago? Sem seus conselhos? O que será de mim sem você? Não sei se existe um Céu ou um Inferno, não sei nem se existe alguma coisa depois que você é levada por Morfeu. Mas eu sei que você está em um bom lugar, de alguma forma eu sinto isso.

Então Andreia, antes que eu parta suas memórias de mim. Antes que eu jogue suas lembranças ao mar e despeça suas cinzas ao vento. Então Andreia, eu tenho que lhe dizer essas três palavras que nunca faltaram para mim, mas que para você sempre foram raras. Eu tenho que dize-las por que sempre fizeram parte do que eu sinto por você, sempre fizeram parte de mim, de nós e deixar de dize-las é o mesmo que admitir que o que tivemos nunca fora o suficiente para mim, e isso não será verdade, alias, muito longe disso. Quem diria que iriamos acabar assim? Já não controlava minhas lágrimas e nem queria. Já não controlava minhas dores e nem queria. Já não controlava meu coração despedaçado... e nem queria. Segurando o presente que você me deu antes de morrer, segurando aquele colar de pingente em formato de coração e olhando para aquela arvore, a nossa arvore cheia de flores que fazia um contraste com o sol que ao longe ia se pondo, sussurei um “Eu te amo”.

Fenomeno do uso


Conheci um rapaz bonito e muito inteligente. Saímos umas duas, três vezes. Me diverti muito aquelas noites. Conversamos sobre vários assuntos e criamos teorias diversas para o mundo. Tomamos uns drinques, rimos. Acordava todo dia de manhã com uma mensagem dele. Tudo estava bem. Até nós irmos para cama. Foi então que ele começou a ficar frio, parou de ligar. Não quis mais me chamar para sair. Aos poucos os momentos que nós tivemos não passaram de vagas lembranças que eu nem sequer sabia se realmente tinha acontecido ou se era fruto de minha imaginação.

Estava triste, tomando minha quinquagésima taça de vinho, chorei. Estava irritada. Magoada. Melancolica. E fiquei me perguntando o que fiz de errado. Tomei porres. Tomei dores. Tomei aspirinas, tomei chuva de lágrimas que não secavam de noite. Tomei sermão, tomei toneladas de café. O que antes era minoria, começou a se tornar excesso para retirar todas as memórias que eu havia guardado com tanto carinho. Minha melhor terapia. Se era só por isso que ele me queria, se era só para ter uma noite de relação, por que ele já não disse logo? Por que ele esperou meu coração estar entregue? Eu não quero mais isso. Não procuro mais relações infantis como esta.

Conheci um rapaz bonito e muito inteligente. Diferente do outro. Saímos umas duas, três vezes. Ele me fez esquecer que estava de coração partido. Nos divertimos juntos, conversamos e rimos. Falamos de politica à bobagens. Mandava mensagem para ele todas as manhãs, gostava de ve-lo e ouvir sua voz no telefone. Fomos para cama.

No dia seguinte sumi.

segunda-feira, 14 de maio de 2012

Vontade.



A Vontade chega por meio dos ventos, atravessa meus poros, se dirige para meu sangue, invade minhas células, meus núcleos, invade meus átomos e cada particula menor ou de maior intensidade. A Vontade pouco a pouco domina minhas moléculas, meu sangue, meus orgaos, meu corpo, domina enfim minha essencia.

Aos poucos vou me transformando em vontade. A Vontade me expressa. Toma conta de meus movimentos, de minhas ações e de cada pedaço de meus pensamentos. Dentro de instantes minha alma é envolvida por completa pela Vontade.

Em movimentos lentos e sutis, quase como em uma dança, a Vontade ergue meu braço, e em uma canção de um soneto só, ela dá passos em direção a minha escrivaninha. A Vontade vive sem o tempo e ignora o espaço. A Vontade está acima das leis do homem e está em conjunto com as leis da natureza.

Me sento e respiro fundo, a Vontade está transformando aos poucos meus objetivos de vida, meus assombros, minhas delicadezas. A Vontade transforma meu quarto, as coisas, minha casa, a rua lá fora, o céu e o sol. Cria seu próprio ambiente, seu próprio mundo.

A Vontade então ergue meu braço e pega a caneta, rabisca algumas coisas no papel. Expõe meus sentimentos, minhas ações, meu espirito. Descreve meus sonhos, minhas dores e engustias, descreve minhas alegrias, meu conceito de felicidade.

Não satisfeita, a Vontade cochicha em meus ouvidos como são seus abraços, seus beijos, sua voz. Me conta sobre seus cheiros, sobre seus sonhos. Me detalha sobre sua dança, seus gostos, me descreve seu sorriso, seu choro. A Vontade então, contente e determinada escreveu o que a originou, a sua criadora. Ela escreve com meu sangue, como parte de mim que eu jamais conseguiria descrever, a Vontade então escreve “Amor” junto ao teu nome.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Madrugada.


00:00

Minha mente só poderia ser caracterizada por uma palavra: confusão. Parecia que eu havia comprado uma passagem no tempo, no meu tempo, e pude visualizar todas as meninas que eu tinha ficado, quantas bocas beijei, quantos abraços dei, com quantas fui para cama e, principalmente, quanto dei atenção à elas. Acho que é uma daquelas épocas humanas que sua vida entra em colapso. É como se houvesse uma linha, pouco nitida mas tênue, que representava o equilibrio, E então alguém chegava e colocava o dedo nessa linha, afetando o equilibrio do corpo inteiro. Me via como uma marionete do espaço-tempo. E esse dedo nada mais é que uma mulher. Sempre é.
Não há tempo para reorganizar as ideias. Não tenho como perder tempo em meus objetivos por que meu campo sentimental está desequilibrado. Há uma mudança chegando, tem o emprego que não para de surgir novas papeladas. Estou ocupado demais para isso. Então por que o olhar daquela mulher não sai da minha mente?

03:00

Ainda não conseguia dormir. Aquele beijo, aquele abraço ainda está em mim e o cheiro dela está impregnado na roupa da ocasião. Em minhas mãos há um cartão, o cartão dela. Com certeza a insegurança bateu em minha porta por que a unica coisa que eu conseguia fazer com aquele cartão era observar. “Jessica Cardoso” em letras personalizadas mas que ainda mantinham o ar discreto que ela apresentava e embaixo havia seu numero, que aquela altura do campeonato eu já o havia decorado.


04:30

A insonia já me causava exaustidão, implorava para meu corpo dormir mas minha mente ainda estava à todo vapor. Levantei da cama e fui em busca de um copo com água, era o melhor que eu poderia fazer esta noite. Na escuridão do pequeno apartamento somente a luz da geladeira iluminava o ambiente, não sei se é por que andei pensando demais sobre meu tempo cronológico com mulheres ou se realmente tinha esse ar, mas o ambiente dava uma sensação de solidão. Acho que estou começando a ficar louco. Esqueça essa maldita mulher!

05:30

Sentei-me no sofá afim de distrair minha mente, liguei a TV e estava passando um daqueles cartoons da madrugada. Aos poucos não percebia mais se era o mesmo desenho ou um diferente, estava pensando no toque dela, no beijo, na conversa. Porra. Já havia preparado um sanduiche e desistido de tentar dormir, já não me restava mais nada além de ficar com minhas lembranças e curtir a insanidade que havia começado. Por que sempre que minha vida está tranquila aparece uma mulher para me desestabilizar? Putz, não posso passar 6 meses sem ter nenhum tipo de confusão. Resmunguei um “mulheres”.

06:00

Estava na minha varanda, sentado em uma cadeira coberto por uma manta enquanto tomava um café, definitivamente tinha desistido de dormir ou de tentar pensar em outra coisa. O sol já estava aparecendo no horizonte e eu me perguntando o que meu falecido pai diria. Nada veio em minha mente. A cada gole de café vinha lembranças, dolorosas lembranças. Mais precisamente quantas vezes eu me apaixonei por uma mulher e tive meu coração partido. Ou quantas vezes mulheres se apaixonaram por mim e tiveram seus corações partidos. É verdadeiro então em que corremos em círculos. Uma hora você é a caça, na outra, o caçador. E naquele momento eu me sentia a caça. Vulneravel, acuado, paranóico. Já estava dando a hora de me arrumar para o trabalho mas não conseguia mover um dedo, meu olhar havia se perdido naquele horizonte meio laranja-amarelo à espera que o sol pudesse me dar uma resposta.


08:00

Apesar de não ter dormido não estava cansado. Parecia até que havia sido curado de alguma coisa dentro de mim. Estava animado, apesar de tudo. À caminho do trabalho estava pensando em quantas chances teria de ve-la novamente, por ação do Acaso. Mesmo sendo péssimo em matemática, não precisava ser um genio para saber que as chances de me encontrar com ela por força do Acaso eram minimas. Olhei para o cartão novamente. Fui levado por uma onda de insegurança e covardia. Virei-me para encarar o sinal vermelho afim de esquecer essa ideia maluca de ligar para ela ou qualquer coisa parecida. Impaciente. Mau-humorado. Ansioso. Ela era uma mulher maravilhosa, tivemos bons momentos, então por que diabos não consigo ligar para ela? Homem velho acostumado com velhos hábitos, as mulheres sempre foram atras de mim, essa é diferente. Ser humano em qualquer idade tem que mudar seus hábitos. Criar um novo círculo. Tornei a olhar o cartão que estava em cima do banco do passageiro. Ontem foi caça, hoje é caçador.