segunda-feira, 9 de julho de 2012

ilusão

Preste atenção no que digo, menina. O calor do seu corpo me faz sonhar. O contato que tenho com a sua pele me causa leveza na alma. Você me faz tão bem. Fecho os olhos por um instante e sua imagem me vem a cabeça, seu olhar penetrante, seu sorriso maravilhoso. Se eu prender minha respiração por um segundo poderei sentir seu perfume, seu toque, seu beijo, sua mão gelada. A imaginação me abraça e me leva em um mundo onde eu acordaria pela manhã e estaria abraçada com você. Nos beijaríamos embaixo da arvore mais bonita do parque. Faríamos amor à nossa maneira. Lentamente abro os olhos e consigo ver nós duas de mãos dadas, caminhando tranquilamente fazendo um percurso que pouco era importante. O tempo não parecia urgente. Nesse mundo, eu poderia tocar-lhe a face em meio a uma multidão, e lentamente fazer carícias em seus cabelos. Eu poderia te beijar sem ter o menor remorso, sem me sentir culpada. Então aos poucos você foge do meu sonho e começa a se pintar de realidade. É tudo tão escuro, tão frio. A felicidade vai se esvaindo de mim pouco a pouco, me deixando sem energia. A distancia entre nós vai se tornando maior cada vez mais rápido, você vai sumindo no horizonte e eu fico com as memórias que tenho de ti. Me vejo parte de um espelho cujo o reflexo não está inteiro, falta sua parte. Os cacos estão espalhados por um chão que na verdade não existe. O contorno dos seus olhos vai aos poucos fugindo de minhas lembranças, as curvas de seu sorriso vão aos poucos se perdendo na escuridão de uma noite que não acaba. Seu cheiro vai ficando distante e a solidão nunca apertou tão forte o meu peito. Eu só desejo o clarear do dia para que eu possa acordar e te ver abraçada comigo na cama.

Mas o sol nunca chegará.

domingo, 8 de julho de 2012

Xeque-mate.


Júlio, 

 Quando se diz “eu te amo” para alguem, você é enlaçado por sutis promessas e que uma delas consiste em cuidar da pessoa que se ama. É por isso que eu não digo “eu te amo” com a mesma frequencia que as pessoas por aí fora costumam dizer. Por que sei que ao dizer isso faço a pessoa que gosto acreditar que estou me comprometendo com promessas que na verdade eu ainda não sei bem o que são. Ao dizer a alguem que você a ama é dizer que vai correr risco. As vezes não sei se estou preparada para percorrer tais aventuras, encarar tais monstros e é nessas e outras que eu prefiro ter a garantia maxima do que estou dizendo para que assim eu não machuque a pessoa que tanto prezo. Qualquer pessoa ajuizada teria cuidado com essas palavras por que normalmente sabem o que elas querem dizer ao contrário essas pessoas seriam crueis. Por que tomar um coração para si e depois parti-lo é, para mim, um dos atos mais crueis que o ser humano pode fazer. O amor é acima de tudo tentar e fazer o seu melhor.
É por isso que eu não posso acreditar que ela me ame, Júlio. Por que ela não tenta. Ela não faz o menor esforço para me ver, me beijar ou sequer me telefonar. Por que ela não corre riscos, por que ela prefere o conforto da heterossexualidade do que uma possivel brecha de felicidade (não que eu esteja prometendo tal, mas por que haveria possibilidades reais). Quais seriam as chances disso ter dado certo? E quão tola fui ao acreditar que poderia criar algum tipo de laço com alguem que nem sequer estaria disposta a enfrentar o mundo junto comigo? Não responda, eu sei o que sou. Alguem aqui na relação tem que saber afinal.
E se me perguntar se ficarei amiga dela em algum dia da minha existencia já aviso que a resposta não é positiva. E então você me perguntaria “e nós? Não somos amigos? Já fomos amantes”. Mas Júlio, você foi sincero comigo do começo ao fim e terminamos nosso relacionamento como um tratado de paz em que ambas as partes entederam de fato o que estava acontecendo.
Ela me enganou. E eu cai. Omitiu fatos, preferiu a covardia do que me deixar a par do tipo de enrascada que eu estava caindo. Me seduziu com palavras bonitas e esqueci de notar se eram feitas de significados vazios, pequenas promessas falsas, uma armadilha. Ela não teve a menor consideração ou respeito por mim. Não conseguiu nem ser o básico: Honesta. Um dia perguntei à ela se era perda de tempo esse nosso possivel envolvimento e ela ficara chateada dizendo que eu a havia ofendido. Era uma mentira em prol da covardia. E quando eu fiquei com raiva na festa que fomos e não quis falar com ela, me disse que teria me beijado em público. Mentira em prol da covardia! E eu cai. A paixão que sinto por ela me deixou tão irracional que eu acreditava sem ao menos deixar os olhos da racionalidade darem uma lida naqueles contextos para ver se eu poderia ou não prosseguir. Mas para que né? Eu gosto demais dela e confiava nela, julgava que a moça não poderia me machucar e que tudo era um mal entendido de ambas as partes. Como eu sou tola. E de fato ela poderia ter gostado de mim. Sim, eu acredito nisso. Porém, ela nunca poderia ter me amado.
Compreendes, meu caro Júlio, por que agora estou de coração partido? Não é fácil para a minha senhoria se apegar a uma pessoa. E quando me apeguei, descobri que era tudo uma jogada. E péssima jogada. Quero dizer, estava escrito nos olhos dela que seria um problema. Ficar com ela era até contra os meus principios, por que eu sei da minha sexualidade e sei também que isso não interessa à ninguem a não ser à mim mesma, estar com alguem que não sabe da sua sexualidade e que se importa de fato com o que as pessoas vão falar é tão... contra tudo o que eu acredito, tudo o que sou. Mas a paixão é burra, não é? Tola. Patetica. Estúpida. Quando será que eu vou aprender?
Quer ler algo interessante? Eu nunca chorei por você, Júlio e olha que te amei. Estou aqui, escrevendo essa carta enquanto sou abordada por milhares de explosoes de memórias que insistem em me mostrar os momentos bons que tive com essa moça. Explosoes que me fazem lembrar cheiros, sentimentos, beijos e carícias. Explosoes que me afetam de um jeito que qualquer coração partido irá compreender. E essas explosoes acontecem dentro de mim e se expressam como lágrimas.
Então se queria noticias minhas, meu caro, aí estão elas. A última pessoa do mundo que você esperava sofrer por uma [des]ilusão está aqui, chorando como uma criança inocente por uma menina que não valia nem um suspiro sequer. Espero que minha carta não tenha lhe deixado entediado e também espero receber noticias suas em breve. Talvez eu faça uma viagem para lhe ver, só você consegue me deixar nesse torpor de conforto e me fazer esquecer qualquer boa moça em meu coração com risadas, boas conversas e vinho.

Sua amiga,

Carla.