Sei como é a dor de ter um coração
partido. Acho que todos nós aqui na terra já sentimos tal dor. Até
as mais horrendas das criaturas. Mas também sei que essa dor é
passageira, por mais que não pareça. No começo você vai chorar,
vai gritar e vai amaldiçoar cada pessoa desse pequeno planeta. Sei
que vai ter horas que a dor vai ser tão grande que parece que não
caberá mais no peito. E que aparenta ser um enorme buraco negro que
destroi cada fragmento de boas lembranças. Mas vai passar.
As vezes você vai achar que passou.
Mas então você a verá de mãos dadas na rua com outra ou então
vai passar por aquele restaurante que sempre iam, até mesmo ouvir
aquela música vai fazer parecer com que toda hemorragia estancada,
toda ferida, nunca foi cicatrizada. Você voltará para o zero.
Chorará, ficará em posição fetal. Até mesmo entrar em profunda
depressão. Sei que seus vicios irão aumentar. Você beberá mais
café do que o usual, mas seria bom se fosse somente o café. Aquelas
cervejas à mais só trará mais dor para o dia seguinte. Dor e
ressaca. Sem contar com os novos vicios que irão surgir. Seja
comprar toneladas de doces na padaria ou correr que nem uma maluca no
parque durante à noite. Não podemos esquecer dos velhos vicios –
que sóbriamente deixamos de lado mas sempre voltam nas horas do
aperto – como o cigarro, os remedios tarja preta ou ler aqueles
livros de romances capengas.
Você não se sentirá mais tão bela,
ou tão radiante que outrora achava. Não se sentirá mulher digna de
um afeto, merecedora de amigos ou novos amores – até porque a essa
altura você vai dizer que o amor não existe – . Eu te conheço. E
muito bem. Você não sentirá vontade de fazer sua maquiagem de
guerra ou usar aqueles vestidos sedutores. Não nesse estágio de
dor. Nesse estágio você só irá querer tomar sorvete e olhar o
programa de domingo, irá recusar convites para saídas e chorar no
seu travesseiro.
Eu sei como você se sente. Mas isso
vai passar. Aos poucos, mas passa. Daqui a pouco você volta com
aquele batom vermelho, com aquele olhar confiante, aos poucos você
deixa o moletom de lado e volta com aquele vestido lindo que guarda
para ocasiões especiais. E quando menos perceber a dor irá
desaparecer e o choro vai parar. Vai voltar para a academia, vai
largar o cigarro. Voltará a beijar outras bocas e cairá novamente
apaixonada.
Porque esse é um ciclo. Acontece
assim. E você sabe que precisou passar por isso para seguir com
outro circulo e se arriscar de novo, e se apaixonar de novo, e amar
de novo e se foder de novo e voltar a chorar. Então vai se recuperar
desse seu fundo do poço, sua fossa sem fim. Porque é assim que tem
que ser. Você cai mas volta, entendeu? Volta!
E é por isso que hoje não irei à sua
casa. É por isso que não tomarei aquele vinho, jogarei aquela
conversa fora e deixarei você chorar em meu ouvido para enfim,
fazermos amor. Você precisa desse tempo para você, para catar os
pedaços. Um conselho? Deixe a dor te consumir. Use o que tem que
usar, faça cartas de amor e ódio, entre em uma overdose de
insanidade e se recupere. Não se preocupe, estarei à sua espera.
Esperarei tua ligação e teu sorriso inundar meus pensamentos,
deixarei você fazer o que quiser comigo. Mas hoje, hoje, Carla, você
precisa estar ai, embaixo dessas cobertas, chorando de soluçar pelo
amor que saiu porta à fora sem dizer adeus porque só assim você
achará o que mais precisa: amor-próprio. Porque só assim você
poderá correr atrás da tal felicidade que todos estamos à procura.
Júlio