segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Querida Carla,


Sei como é a dor de ter um coração partido. Acho que todos nós aqui na terra já sentimos tal dor. Até as mais horrendas das criaturas. Mas também sei que essa dor é passageira, por mais que não pareça. No começo você vai chorar, vai gritar e vai amaldiçoar cada pessoa desse pequeno planeta. Sei que vai ter horas que a dor vai ser tão grande que parece que não caberá mais no peito. E que aparenta ser um enorme buraco negro que destroi cada fragmento de boas lembranças. Mas vai passar.

As vezes você vai achar que passou. Mas então você a verá de mãos dadas na rua com outra ou então vai passar por aquele restaurante que sempre iam, até mesmo ouvir aquela música vai fazer parecer com que toda hemorragia estancada, toda ferida, nunca foi cicatrizada. Você voltará para o zero. Chorará, ficará em posição fetal. Até mesmo entrar em profunda depressão. Sei que seus vicios irão aumentar. Você beberá mais café do que o usual, mas seria bom se fosse somente o café. Aquelas cervejas à mais só trará mais dor para o dia seguinte. Dor e ressaca. Sem contar com os novos vicios que irão surgir. Seja comprar toneladas de doces na padaria ou correr que nem uma maluca no parque durante à noite. Não podemos esquecer dos velhos vicios – que sóbriamente deixamos de lado mas sempre voltam nas horas do aperto – como o cigarro, os remedios tarja preta ou ler aqueles livros de romances capengas.

Você não se sentirá mais tão bela, ou tão radiante que outrora achava. Não se sentirá mulher digna de um afeto, merecedora de amigos ou novos amores – até porque a essa altura você vai dizer que o amor não existe – . Eu te conheço. E muito bem. Você não sentirá vontade de fazer sua maquiagem de guerra ou usar aqueles vestidos sedutores. Não nesse estágio de dor. Nesse estágio você só irá querer tomar sorvete e olhar o programa de domingo, irá recusar convites para saídas e chorar no seu travesseiro.

Eu sei como você se sente. Mas isso vai passar. Aos poucos, mas passa. Daqui a pouco você volta com aquele batom vermelho, com aquele olhar confiante, aos poucos você deixa o moletom de lado e volta com aquele vestido lindo que guarda para ocasiões especiais. E quando menos perceber a dor irá desaparecer e o choro vai parar. Vai voltar para a academia, vai largar o cigarro. Voltará a beijar outras bocas e cairá novamente apaixonada.

Porque esse é um ciclo. Acontece assim. E você sabe que precisou passar por isso para seguir com outro circulo e se arriscar de novo, e se apaixonar de novo, e amar de novo e se foder de novo e voltar a chorar. Então vai se recuperar desse seu fundo do poço, sua fossa sem fim. Porque é assim que tem que ser. Você cai mas volta, entendeu? Volta!

E é por isso que hoje não irei à sua casa. É por isso que não tomarei aquele vinho, jogarei aquela conversa fora e deixarei você chorar em meu ouvido para enfim, fazermos amor. Você precisa desse tempo para você, para catar os pedaços. Um conselho? Deixe a dor te consumir. Use o que tem que usar, faça cartas de amor e ódio, entre em uma overdose de insanidade e se recupere. Não se preocupe, estarei à sua espera. Esperarei tua ligação e teu sorriso inundar meus pensamentos, deixarei você fazer o que quiser comigo. Mas hoje, hoje, Carla, você precisa estar ai, embaixo dessas cobertas, chorando de soluçar pelo amor que saiu porta à fora sem dizer adeus porque só assim você achará o que mais precisa: amor-próprio. Porque só assim você poderá correr atrás da tal felicidade que todos estamos à procura.


Júlio