sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Querida M.,



Não sei como começar essa carta. Faz tanto tempo que não nos falamos que já não consigo mais saber o que exatamente escrever. Pensei em escrever essa carta com uma linguagem mais formal, porque não sou íntimia da pessoa a qual direciono. Porém, a linguagem formal nunca passou perto da lista de coisas agradáveis. Para mim, a linguagem formal lembra um robô. A formalidade transforma a alma do texto, a transforma em fria, áspera, calculista. E não concordo com esse tipo de escrita.

Como posso explicar? A carta que fiz para ela não tinha nada a ver contigo. Em nenhum momento lhe citei, ou disse qualquer coisa parecida a seu respeito. Se enganou quando disse que eu estava te culpando de algo. Eu não sabia do seu caso até terminarem, esqueceu? E não é de meu feitio tomar dores de outras pessoas, ainda mais quando, essas mesmas pessoas, não tinham qualquer vínculo comigo até então o envio da carta. Não acredito que foi necessário te explicar esse ponto. Quando disse à ela que não me pareceu justo o sofrimento é porque eu não considero justo qualquer tipo de sofrimento. Não, eu não quis dizer que você é a culpada disso tudo, sinto muito, nem tudo gira em torno de ti.

A amizade que tinha contigo era muito agradavel. Eu sentia um enorme carinho e me fazia bem estar com você. Depois de um tempo, você se distanciou de mim por motivos que só consegui compreender agora. No começo senti sua falta e você sabe. Porém, com o passar desses quase dez meses, a sua presença já não me faz diferença. Ter ou não ter sua companhia não irá mudar a minha vida. Você me mandou uma mensagem dizendo que sentia saudades. Como eu posso acreditar nisso?

Afinal de contas, eu não saí do lugar. Você sabia onde e como me encontrar, mas nunca me procurou. Talvez por causa dela? Sim, provavelmente. Mas fazem quase três semanas do término de vocês, onde fora parar tua saudades? E se eu, era uma pessoa tão querida para você, então me explique bem explicado o porquê de falar tão mal de mim por aí. Se gostava tanto de mim, como dizia gostar, então porque insistia em fazer discursos sobre o meu mau-caratismo? Oras, M., já não te reconheço, lembro-me perfeitamente que quando nos conhecemos você batia o pé para pessoas falsas e que a coisas deveriam ser ditas com conversas cara-a-cara. Quem é você agora? São perguntas que infelizmente eu tenho. Convenhamos, seu silêncio é por si só, dono de suas respostas.

Eu posso lidar com uma amizade falsa. Posso lidar com acusações erroneas, com as culpas. Posso lidar com as consequencias, com a distância, com o silêncio. Posso lidar com a sua raiva, com a sua insegurança, posso lidar com a dor. Eu não me importo com todos os seus erros e defeitos. Eu não ligo para seus discursos mal-ditos, com suas brigas, com o seu drama. Porém, M., não posso lidar com a ausência. Com o vazio do nosso relacionamento, com um laço frouxo. Existe uma barreira entre nós e quebrar essa barreira, para mim, significa regressar a velhos costumes das quais quero me livrar. Já não conheço quem es tu. E de nada vale sua amizade. Então, guarde as boas lembranças em um baú, ou as jogue fora, como preferir. Porque aquele tempo, infelizmente, não irá voltar. Só peço que se cuide nesses novos caminhos.

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Querida V,

  Faz tempo que não nos falamos, não é mesmo? Sei que neste momento, eu devo ser uma das últimas pessoas das quais você gostaria de algum contato. Pediram, e quase imploraram, para que não te procurasse. Veja bem, estou colocando a credibilidade da minha fonte em xeque e isso pode ser um risco para mim. Entretanto, assim que soube da sua história me deu um surto que não consigo explicar. Me deu vontade de te abraçar e dizer que vai ficar tudo bem, mas acima de tudo, te pedir desculpas.
  Sei que nosso relacionamento era conturbado. Não tinhamos algo definido, e quando digo isso falo à respeito de tudo, sentimentos, relacionamento, vida. Sei também que sumi quando menos deveria te-lo feito. Não que você precisasse de mim, muito pelo contrário, ou que talvez tenha sofrido (aliás, você sofreu com minha ausência?). Mas minha ausência teve respostas, foi um cuidado armado, algo pensado. Eu não te contei, sei que fiz errado.
  Porém, você havia me dito que as pessoas à sua volta estavam lhe pressionando para tomar alguma decisão sobre nós. Eu mesmo, odeio pressão. Não me pareceu justo continuar com algo forçado, botar seus sentimentos na linha de frente sem ter algo certo a ser trocado. Não me pareceu justo forçar algo que nós mesmos não ligávamos. Nosso relacionamento era fluído. Livre. Foi por isso que tomei um chá de sumiço, não queria te ver forçando uma barra que você não queria.
  Vitória, essa é uma carta de desculpas, desculpas pela minha ausência, pela minha filha da putagem, desculpas pelas suas possíveis mágoas, por futuras dores. Mas é também uma carta amiga, que estende a mão, que compreende sua dor. É uma carta que pede trégua e ao mesmo tempo esclarecimento. Como se fosse um novo tempo. Não espero que você me desculpe, não espero uma resposta imediata, aliás, nem sei se espero coisa alguma. Talvez apenas que essa carta te dê a sensação de segurança, de algo passado a limpo, realmente não sei.
  A verdade é que a vontade que eu tenho de te abraçar agora nunca fora tão forte. De dizer que vai ficar tudo bem. De esperar um possivel tapa na cara para ver se largo de ser tão cretina. De alguma forma, nunca quis tanto te fazer sorrir. Vai ver que é porque, em alguma hora, me identifiquei com sua dor. Que não me parece justo o teu sofrimento.
  Se em algum momento você achar que pode, de alguma forma, contar comigo. Seja para discutir durante horas, para ficar em silencio, para me dar uma bofeteada na cara, simplesmente desabafar, minha casa estará livre para tomar um café em uma tarde calorosa. E se nesse momento você ainda tiver a sensação que deve ficar distante de mim, espero que de alguma forma esta carta tenha lhe ajudado. Nem que seja para você me xingar mais um pouco.
  E de coração, eu espero melhoras. Esse capítulo da sua vida está encerrado, você tá sofrendo pra caralho agora, mas daqui há um tempo estará melhor. Você merece o melhor. Então erga sua cabeça e cate esse coração partido, coloque aquele batom vermelho e vá de novo à luta.


Desejo-lhe sorte,

Isabella.