Não sei como começar
essa carta. Faz tanto tempo que não nos falamos que já não consigo
mais saber o que exatamente escrever. Pensei em escrever essa carta
com uma linguagem mais formal, porque não sou íntimia da pessoa a
qual direciono. Porém, a linguagem formal nunca passou perto da
lista de coisas agradáveis. Para mim, a linguagem formal lembra um
robô. A formalidade transforma a alma do texto, a transforma em
fria, áspera, calculista. E não concordo com esse tipo de escrita.
Como posso explicar? A
carta que fiz para ela não tinha nada a ver contigo. Em nenhum
momento lhe citei, ou disse qualquer coisa parecida a seu respeito.
Se enganou quando disse que eu estava te culpando de algo. Eu não
sabia do seu caso até terminarem, esqueceu? E não é de meu feitio
tomar dores de outras pessoas, ainda mais quando, essas mesmas
pessoas, não tinham qualquer vínculo comigo até então o envio da
carta. Não acredito que foi necessário te explicar esse ponto.
Quando disse à ela que não me pareceu justo o sofrimento é porque
eu não considero justo qualquer tipo de sofrimento. Não, eu
não quis dizer que você é a culpada disso tudo, sinto muito, nem
tudo gira em torno de ti.
A amizade que tinha
contigo era muito agradavel. Eu sentia um enorme carinho e me fazia
bem estar com você. Depois de um tempo, você se distanciou de mim
por motivos que só consegui compreender agora. No começo senti sua
falta e você sabe. Porém, com o passar desses quase dez meses, a
sua presença já não me faz diferença. Ter ou não ter sua
companhia não irá mudar a minha vida. Você me mandou uma mensagem
dizendo que sentia saudades. Como eu posso acreditar nisso?
Afinal de contas, eu
não saí do lugar. Você sabia onde e como me encontrar, mas nunca
me procurou. Talvez por causa dela? Sim, provavelmente. Mas fazem
quase três semanas do término de vocês, onde fora parar tua
saudades? E se eu, era uma pessoa tão querida para você, então me
explique bem explicado o porquê de falar tão mal de mim por aí. Se
gostava tanto de mim, como dizia gostar, então porque insistia em
fazer discursos sobre o meu mau-caratismo? Oras, M., já não te
reconheço, lembro-me perfeitamente que quando nos conhecemos você
batia o pé para pessoas falsas e que a coisas deveriam ser ditas com
conversas cara-a-cara. Quem é você agora? São perguntas que
infelizmente eu tenho. Convenhamos, seu silêncio é por si só, dono
de suas respostas.
Eu posso lidar com uma
amizade falsa. Posso lidar com acusações erroneas, com as culpas.
Posso lidar com as consequencias, com a distância, com o silêncio.
Posso lidar com a sua raiva, com a sua insegurança, posso lidar com
a dor. Eu não me importo com todos os seus erros e defeitos. Eu não
ligo para seus discursos mal-ditos, com suas brigas, com o seu drama.
Porém, M., não posso lidar com a ausência. Com o vazio do nosso
relacionamento, com um laço frouxo. Existe uma barreira entre nós e
quebrar essa barreira, para mim, significa regressar a velhos
costumes das quais quero me livrar. Já não conheço quem es tu. E
de nada vale sua amizade. Então, guarde as boas lembranças em um
baú, ou as jogue fora, como preferir. Porque aquele tempo,
infelizmente, não irá voltar. Só peço que se cuide nesses novos
caminhos.